Animalário universal do Professor Revillod - Miguel Murugarren & Javier Saéz Castán - Orfeu Negro
Quando eu era muito mais novo, na minha ânsia da descoberta de curiosidades, encontrei um dia na montra de uma livraria um livrinho da Thames & Hudson sobre a obra de Athanasius Kircher. Não descansei enquanto não juntei dinheiro para comprar o dito livro. Se já antes tinha uma tremenda fixação pelas gravuras de Roux gravadas por Hildebrand para as edições Hetzel de Jules Verne que o meu avô tinha reproduzidas nos livros da edição de luxo portuguesa publicada pela David Corazzi (sabiam que a única deslocação de Verne a Portugal foi precisamente para assinar contratos com Corazzi que montou em seu torno uma tremenda campanha de marketing - algo que ainda nem existia na altura?). A partir daí desenvolvi outra paixão para alémn da dos livros, a das gravuras de livros.
Este livro é uma delícia Kircheriana, oferecendo-nos a possibilidade de criar animais fantásticos. Não creio que seja um livro para crianças. Os seus bonecos evocam os manuscritos alquímicos, os tratados sobre a natureza do começo do renascimento. E despertaram-me vontade de voltar ao Kircher que estava esquecido na prateleira perto do Dürer e companhia.
Deixem passar o homem invisível - Rui Cardoso Martins - Dom Quixote
Este romance não tem propriamente nada de relacionado com essa velha linha de abastecimento de água à capital mas houve qualquer coisa desse mundo subterrâneo que senti muito próxima nesta leitura. Certamente o peso de uma cidade cheia de história que escorre por cima do leitor embrenhado com os protagonistas nos esgotos de Lisboa.
A história principal envolve um advogado cego desde os 8 anos e um rapazito que são arrastados, durante uma enxurrada para uma sarjeta na zona de São Sebastião da Pedreira. A partir desse ponto estamos no reino do fantástico ou pelo menos no reino do sub-real (será também surreal?). As conversas entre os dois personagens e as histórias que se cruzam fazem o retrato de um submundo lisboeta estranho e familiar ao mesmo tempo.
Enciclopédia da estória universal - Afonso Cruz - Quetzal
Há muitos anos, um amigo meu agora escritor de alguma nomeada, amigo esse que tinha dupla nacionalidade (portuguesa por um lado e uma nacionalidade pouco vulgar por estes lados), foi concluir um mestrado em Ciências da Educação no tal outro país. Lembro-me de ele me contar divertido que toda a bibliografia da sua tese era, obviamente, portuguesa e totalmente falseada. A tese que apresentou teve bastante aceitação e chegou mesmo a discussão nos média.
Também esta enciclopédia parte de um arranjo ficcional da realidade, uma burla ao leitor que é, ao mesmo tempo, um arrastar para um mundo mágico quase tão subterrâneo oupelo menos quase tão paralelo como o do livro acima.Uma brincadeira deliciosa. Seria um livro quase perfeito se não tivesse optado por colocar estória no título. Essa palavra irrita-me imenso. Assim é um livro quase-quase-perfeito. A ler.
1 comentários:
Muito obrigado, Hugo.
Confesso que a escolha do título foi motivo de hesitação.
Abraço,
Afonso
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