Quando sai da Cavalo de Ferro, tinha clara consciência da dificuldade de encontrar emprego nesta área da edição. Sabia que o momento ainda mais difícil era pela crise global e pelo regime de concentração empresarial que se vive. Ainda assim, tinha alguma esperança de que o trabalho que desenvolvi na Cavalo de Ferro me abrisse algumas portas e pudesse apresentar algumas ideias e defender aquilo que pretenderia fazer em termos editoriais.
A verdade é que falei com muita gente. Fui a muitas entrevistas, foram-me pedidos vários planos editoriais (algo que eu não gosto muito de dar uma vez que no passado já tive amargos de boca com situações similares). Confesso que tinha alguma esperança de sair da ronda das pequenas editoras. Sei que é difícil (tanto ou mais) trabalhar nas grandes mas agradava-me ter, pelo menos, desafios diferentes e, por uma vez na vida, não estar condicionado nas apostas mais ambiciosas, pelas restricções financeiras inerentes aos pequenos projectos.
Claro que o problema pode ser meu, posso ser eu que estou a ver de forma muito estranha o futuro da edição em Portugal e toda a gente ter ideias muito diferentes das minhas, mas isso não justifica a falta de elegância e de respeito que tenho sentido na fase seguinte a quase todas as entrevistas.
Estou mesmo muito desiludido com o meio editorial português, porque esperava que houvesse um entendimento mais claro daquilo para que todos deveríamos estar unidos: ganhar novos públicos leitores e garantir o futuro do sector independentemente da forma de suporte que as próximas décadas tragam. O que conheci foi muita gente agarrada ao imediatismo do seu umbigo e também percebi que, pelo facto de ter desempenhado o meu trabalho sempre sem dar muito nas vistas, era e sou visto como "editor menor". Muito menos consegui fazer perceber às pessoas que, apesar de ter trabalhado na cavalo de Ferro que teve sempre a etiqueta de editora de elites culturais, não quer dizer que não possa fazer outras coisas e trabalhar com igual ou maior sucesso noutras áreas da edição. Ainda assim parece que estou categorizado e selado.
Por isso desculpem o desabafo. Ainda ontem tinha escrito aqui um texto simples sobre o porquê de sempre ter querido ser editor. Hoje - e a vida tem destas coisas - houve mais alguns eventos que me provam que não vale a pena querer ser editor. Que não vale a pena sonhar com apresentar boa literatura ou sequer fazer um trabalho editorial sério (independentemente do que se publica). Somos um país satisfeito com a mediocridade. Fico ao menos feliz de ter feito o que fiz na Cavalo de Ferro e ainda nalguns outros sítios por onde passei, mas gostaria de poder fazer mais.
Se souberem de alguma coisa, passem a palavra. O autor deste blogue precisa de ganhar dinheiro de forma honesta e já nem se preocupa muito se é a trabalhar na edição ou não.
ACTUALIZAÇÃO:
O que foi escrito acima, foi escrito a quente. Não discordo de nada do que disse mas percebo que possam ler do que escrevi que me considero uma espécie de editor-superherói capaz de salvar a edição portuguesa da ruína. Nada disso, aliás acho que, cada vez mais, apesar de tudo, se tem vindo a publicar melhor em Portugal. Aquilo contra o que insurgi foi contra casos específicos de pessoas e discursos que tive de ouvir nos últimos meses e que culminaram hoje com mais uma situação ridícula. Quando menciono falta de elegância e de respeito, éo ponto principal. Quanto aos argumentos que foram usados contra os pontos que eu defendo foram gerralmente de uma tacanhez e falta de visão futura que me assusta porque vinda de pessoas com poder nas suas empresas e no meio. Claro que houve boas excepções mas mesmo essas não tiveram seguimento. Provavelmente amanhã acordo outra vez esperançado e apago este post.
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1 comentários:
Caro Hugo
Mesmo não tendo a habilidade para estas coisas de "comentar". Este meu primeiro tornou-se um impulso de leitor/escritor esfomeado: o teu trabalho (ou seja, os livros que punhas cá fora na cavalo de ferro) alimentaram-me durante os últimos anos. Tendo-me habituado a eles (e com uns quilinhos a mais de mundo que tinham vindo parar aqui dentro) quero que saibas que estou a emagrecer. Que fizeste um brilhante trabalho. E que, no meu núcleo restrito de conhecimentos na área, se souber de qualquer coisa, terei todo o gosto de me lembrar do teu nome.
Abraços com empurrões (para a frente)
rui almeida paiva
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