Aquele livro que eu nunca publicaria... mas apetecia


Bench Press - Sven Lindqvist - Granta Books

Parte do trabalho do editor é conhecer o público que existe, quais os seus gostos, quais as suas predisposições, qual a sua abertura a coisas novas.

Foi por isso que, quando há uns anos o Instituto Sueco me enviou um caixote de livros incluíndo quase todas as traduções internacionais para inglês, italiano e francês de autores suecos, tive de recusar este livro. Acabei por publicar um livro que adoro e que foi dos que mais desapercebido passou nos diversos lançamentos da Cavalo de Ferro: «A última receita» de Torgny Lindgren (desafio-vos a não gostarem). Este último não foi bem sucedido, creio, por causa da capa, cuja elaboração, na altura não pude acompanhar.

Seja como for e voltando ao Lindqvist. Um livro que nunca funcionaria em Portugal, apesar de ser brilhante. E não funcionaria porque não há referentes suficientes entre os leitores a que se destina e a realidade que retrata. Não, não falo dos ambientes gelados da Suécia. Falo de salas de musculação.

E temos de convir que se há coisa que o leitor português, o devorador de livros, não tem como referente é o body-building. Estão por exemplo a ver um caixa de óculos como eu a ler um livro do Torgny Lindgren, por exemplo, e ao mesmo tempo a fazer flexões de pernas? Impossível diriam uns, outros, poucos, sabem que até andei uns 3 meses na musculação. Mas o leitor português, o devorador de livros, não é um desportista, muito pelo contrário. É um ser que vive em cativeiro e não nos espaços livres.

O livrinho de Lindqvist (acho que, se ultrapassava as 100 páginas, era por pouco), faz uma análise ao mundo contemporâneo e ao desenvolvimento da sociedade desde tempos recônditos até ao presente momento, comparando-o não apenas com a história do body-building como com os próprios exercícios da musculação. E acreditem que é uma obra-prima. Uma que só por milagre ou erro alguma vez aparecerá em tradução portuguesa.

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