Uma delas marcou-me tanto que tenho o dito alfarrábio a desfazer-se e à espera de novo emprego para ter dinheiro e remetê-lo para um encadernador. Comprei o dito volume há uns anitos, numa feira do livro, por 400$00. Comprei-o porque ao abrir o volume li um poema e fiquei incrédulo, li outros ao acaso e mais ainda fiquei.
Chama-se o livro "Em pleno Inverno" e é um livro de poesias do Visconde de Carnaxide publicado em 1925 pela Parceria A. M. Pereira. Claro que fiz a minha investigação caseira sobre o autor que resultou em saber ser ele António Baptista de Sousa, 1.º Visconde de Carnaxide (1847-1935), Sócio efectivo da academia das Sciências de Lisboa, Sócio correspondente da Real academia de Ciencias morales y politicas e da Academia das ciencias politicasy sociales de Venezuela, e director da revista «O Direito». Da sua pena sairam obras de relevo como:
- Questões jurídicas da guerra e da paz : direito actual e sua transformação necessária e esperada / Visconde de Carnaxide. Lisboa : Parceria António Maria Pereira, 1915.
- O regime internacional em preparação / Visconde de Carnaxide. Lisboa : [s.n.], 1919.
- As superstições e o crime. Lisboa : Academia das Ciências, 1916.
- Leitura para letrados / Visconde de Carnaxide. Coimbra : Coimbra Editora, 1925.
- Quarto livro de versos / 1o Visconde de Carnaxide. Lisboa : Parceria António Maria Pereira, 1928.
- Censuras prestimosas e o direito de resposta : duas criticas ao meu livro "No fim do Outono" / Visconde de Carnaxide. [S.l. : s.n.], 1922.
- Homenagem a Ruy Barbosa no seu jubileu literário : oração lida em sessão de 6 de Março de 1919 / Visconde de Carnaxide. Lisboa : Imp. Nacional, 1921.
- O canto do cisne : quinto e ultimo livro de versos / Visconde de Carnaxide. Lisboa : Parceria António Maria Pereira, 1932.
- No Outono da vida / Visconde de Carnaxide. Lisboa : Imp. Nacional, 1920.
- A dictadura de 1890 : discurso proferido na Camara dos Senhores Deputados na discussão do bill de indemnidade... / António Baptista de Sousa. Lisboa : Imp. Nacional, 1890.
- A lei de meios de 1891 1892+ e as auctorisações n'ella contidas : discurso proferido na Camara dos Senhores Deputados na sessão nocturna de 25 de Junho / António Baptista de Sousa. Lisboa : Imp. Nacional, 1891.
- Projecto de lei relativo à fiscalização de sociedades anonymas apresentados na Camara dos Senhores Deputados... / António Baptista de Sousa. Lisboa : Imp. Nacional, 1892.
- Progresso do Norte / propr. Antonio Baptista de Souza e Luiz A. da Nobrega P. Pizarro. Villa Real : Manoel Correia Taveira, 1881.
- A comédia jurídica : scenas de fraudes das leis e casos jocosos da vila forense / António Baptista de Sousa, Visconde de Carnaxide. Coimbra : Imp. da Universidade, 1914.
- Sociedades anonymas : estudo theorico e prático de direito interno e comparado / Visconde de Carnaxide. Coimbra : França Amado Editor, 1913.
- Elogio histórico de José Fernandes Costa : lido em sessão pública da Academia das Sciências de Lisboa de 15 de Abril de 1923 pelo sócio efectivo Visconde de Carnaxide / Academia das Sciências de Lisboa. Coimbra : Imp. da Universidade, 1923.
- Estudos agricolas... / Vinconde da Carnaxide. Lisboa : Imp. Nacional. 1888.
- Tratado da propriedade literária e artística : Direito interno, comparado e internacional / Visconde de Carnaxide. Porto : Ed. da Renascença Portuguesa, 1918.
- Transmontanos ilustres : o visconde de Carnaxide / Grémio de Trás-os-Montes. [S.l. : s.n.], 1930.
- D. João V e o Brasil : ensaio sobre a política atlântica de Portugal na primeira metade do século XVIII / Visconde de Carnaxide. Lisboa : [s.n.], 1952.
- Elogio histórico de Francisco António da Veiga Beirão : lido em sessão solene de 20 de Dezembro de 1919 da Academia das Sciências de Lisboa / pelo Visconde de Carnaxide. Lisboa : Imprensa Nacional. 1919.
Teve direito também a uma biografia: A vida e a obra do Visconde de Carnaxide / Manuel Veloso d'Armelim Junior. Lisboa : Parceria Antonio Maria Pereira, 1928.
Como se pode constatar um homem de direito mas com vasta cultura e conhecimentos e, como quase todos os letrados do seu tempo, um patriota.
Assim e depois de tudo isto decidi, muito provavelmente à rebelia dos descendentes do Visconde - se os há -, ir publicando neste blogue os poemas magníficos que compõem este livro. Espero sinceramente que vos dêem tanto prazer como me deram a mim.
QUADROS PSICOLÓGICOS
PARTE 1
SONETOS(*)
(*) Referindo no elogio Histórico de Fernandes Costa, proferido em 15 de Abril de 1923 na Academia das sciencias em Lisboa o que era bem sabido ter dito Boilean que un sonnet sans défaut vaut seul un long poème; e acrescentando que aqueleexcelso e saudoso académico, que produzira centenas de impecáveis composições d'essa especie, avultando, e em número de quasi de trezentas,as do seu = Eterno Feminino = , no Elogio, que por sua vezali fizera do genial vate brazileiroOlavo Bilac, consignara, =que um sonêto bem conduzido, bem torneado, bem concluido, e, contudo, muitas vezes imperfeito, apesar de belo, contribuia imensamente mais para o renome de quem o compusera d que centenas de páginas luminosas, eloquentes, cheias de pensamentos e de ideias, de estilo, de vida, em que o autor fixara a sua capacidade literária, mas com mais amplitude, com maior largueza = (sendo neste sentido que tendo em 1919 no Almanak Bertrand, que dirigira, traduzido um sonêto, encontrado por acaso, de Privat d'Anglemont, poeta ignorado ou esquecido, anotara, que essa obra primade afortunada inspiração, fôra suficiente só por sipara constituir a gloria do autor); prestei em seguida a informação, que, por ser interessante e para muitos desconhecida, vou aqui reproduzir: de que numa conferencia ácerca do sonêto brasileiro desde Gregorio de Matos a Raymundo Correia, publicada no número de novembro de 1920 da Revista de Lingua Portuguêsa, do Rio de Janeiro,lembrara o seu autor Alberto de Oliveira, que Manuel Fonseca Borralho lhe atribuira as exigências de um silogismo, sendo o 1.º quarteto a permissa maior, o 2.º a menor, e os tercetos a consequência, ou os dois quartetos a maior, o 1.º terceto a menor e o 2.º o corrolario; e que o conceitoconhecido, de que o soneto se ha de abrir com chave de prata e fechar com chave de ouro, tivera uma variante em Faria e Sousa, comentando os de camões, que era como a carrera de um bom cavaleiro, na qual se olha mais o parar que o partir e o correr. [as variações gráficas e de acentuação estão conforme o original]
Expiação (*)
O perdão dessa afronta que te fiz,
sei bem que não se dá por ser pedido,
mas se por meu martírio for mer'cido,
dá-o então por esmola à infeliz.
Por isso vou gozar tormentos vis,
como nunca ninguém tenha sofridom
para que possas ser, já comovido,
e piedoso tu mesmo, o meu juiz.
Se depois eu vier a conhecer,
que ao teu ferido e nobre coração
movêra a minha sorte à compaixão,
Com graça tal eu posso já morrer,
contente de me ter durado a vida,
p'ra ir perante Deus desoprimida.
(*)
O soneto Expiação, a pag. 61, foi-me sugerido por uma situação real de que tive conhecimento, modificando-a apenas na exposição poética para melhor a dramatisar. Não fôra a mesma mas bastante similhante à de outra mulher, conforme posteriormente foi referido numa carta publicada na Ilustração Portuguêsa de 2 de Fevereiro de 1924.
[... Agora vou arejar um pouco o blogue]
0 comentários:
Enviar um comentário