Livros do Ano 2013

0 comentários segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Nos últimos anos tenho vindo a fazer grandes selecções de livros do ano. É-me difícil restringir os melhores a 10 ou 15 (ou 5 ou 3). Este ano, contudo, foi mais fácil. Li muito poucas novidades e andei pouco atento ao que se publicava por aí. Aproveitei para ler imensa coisa que tinha comprado nos últimos anos e que estava parada nas estantes.

Cá vai portanto a minha selecção dos livros do ano. Como sempre, estão incluídos apenas livros que li na edição portuguesa mencionada ou que conheço de ler noutras línguas. A ordem não tem qualquer relevância.

Afonso Cruz
Para Onde Vão os Guarda-Chuvas
Alfaguara

O Afonso Cruz não falha e mantém-se nas minhas escolhas anuais.


Fernando Esteves Pinto
O Carteiro de Fernando Pessoa
Parsifal

Já o tinha publicitado por aí. Um dos meus livros do ano sem qualquer dúvida. O fernando consegue sair do seu registo sem sair do seu espaço e entra na cabeça dos moradores da Rua Coelho da Rocha para uma intriga de desejos e crimes que explica mais de Pessoa que muito ensaio por aí publicado.


Raúl Brandão
A Pedra ainda Espera Dar Flor - Dispersos
Quetzal

Foi o primeiro livro que vi publicado neste ano. A primeira notícia de novidade e na altura disse logo que estava encontrado um dos livros do ano. Não voltei atrás mas eu sou de desconfiar no que toca ao R. Brandão. Quando não me param eu tenho um tendência para dizer que é provavelmente o maior autor europeu do seu período e provavelmente da literatura mundial.


Anthony Burgess
Laranja Mecânica
Alfaguara

Ainda estava eu na Babel e tentei agarrar por tudo os direitos deste livro para publicar na Ulisseia. A batalha foi feroz mas não consegui agarrá-lo e aqui está ele na Alfaguara. (não me pronuncio sobre a tradução que não li a mesma.)


Charles Bukowski
Histórias da Loucura Normal
Alfaguara

Também na Ulisseia comecei a publicar Bukowski mas infelizmente não houve meios para manter o autor na editora para grande pena minha. (também aqui não li a tradução.)


Leopoldo Brizuela
Numa Mesma Noite
Alfaguara

Grande livro. Li-o quando saiu em edição de língua espanhola.


Marc Chagall
Antigo Testamento
Relógio d'Água

Goste-se ou não de Chagall, o Antigo testamento é um dos livros da minha vida e o casamento resulta.


Alice Munro
Amada Vida
Relógio d'Água

Podia ter sido um qualquer dos livros da Alice Munro mas foi este porque encontrei há uns anos num banco do Aeroporto de Frankfurt a edição inglesa abandonada.


Jean Luc Fromental, Joelle Jolivet  
365 Pinguins
Orfeu Negro

Irresistível!


Alejo Carpentier
Concerto Barroco
Antígona

Outro dos meus fétiches. Tentei apanhá-lo ainda nos tempos da Cavalo de Ferro mas foi publicado numa chancela creio que da Saída de Emergência. Espero que a Antígona continue a publicação de Carpentier.


Jonathan Swift
Singela Proposta e Outros Textos Satíricos
Antígona

Irresistível II.


Andrei Platónov
Djan ou a Alma
Antígona

Um dos grandes nomes esquecidos da literatura mundial.


Sándor márai
A irmã
Dom Quixote

Há algum livro do márai que não seja bom? (também aqui não conheço a tradução, noutra língua)


Gao Xingjian
Uma Cana de Pesca para o Meu Avô
Dom Quixote

Por vezes é essencial percebermos o nosso lugar no mundo relativamente a tudo mas em especial no que toca à nossa mundivisão. Este é um daqueles livros que colocam frente a frente o universal e o particular de forma única.


Edmund Burke
Uma Investigação Filosófica acerca da Origem das Nossas Ideias do Sublime e do Belo
Edições 70

Para a biblioteca dos textos fundamentais. Li-o na faculdade nos tempos em que voguei sobre os radicais portanto não conheço a tradução.


Ana Teresa Pereira
As Longas Tardes de Chuva em Nova Orleães
Relógio d'Água

Cada livro da Ana teresa Pereira é um magnífico deja vu. Haverá alguém na literatura universal capaz de cativar tanto a cada dose do mesmo?


Oliver Sacks
Enxaqueca
Relógio d'Água

Fiquei (e estou que sou preguiçoso e não me informei) na incerteza de saber se esta edição é a primeira ou uma reimpressão. (li em inglês e é outro dos meus fétiches)


Marcel Ruijters
Inferno
Mmmnnnrrrg

Se desta lista eu tivesse de escolher um livro para levar comigo para o além, este seria o escolhido.


ADENDA (só porque o copiar&colar não funcionou)

Alberto Manguel
Dicionário de Lugares Imaginários
Tinta da China

O meu livro de viagens preferido de há muitos anos para cá /juntamente com um outro que não vou referir porque talvez o futuro mo deixe publicar).
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Os meus votos para hoje:

0 comentários domingo, 29 de setembro de 2013
Gostaria que, de uma vez por todas, os portugueses acordassem. Vamos votar nas eleições autárquicas, isso significa votar em quem gere o pedaço de país em que vivemos. E é esse pedaço de país que aqui está em causa.

Quem vai votar para dar recados políticos, quem vota para dar força ou quem vota contra, está a léguas de perceber o que é a democracia.

Está na hora de o português começar, de uma vez por todas a votar em quem faz um melhor trabalho. E se não sabe nada sobre o que fez o seu/a sua presidente de junta ou de câmara, não vote. Eu, pelo menos, não quero que alguém decida sobre quem vai mandar no pedaço de país onde vivo só porque sim ou porque não, ou pelo nome ou pela bandeira, ou pela fotografia medonha ou pelo cartaz idiota. Se, como a maior parte dos portugueses, quer lá saber o que fizeram ou andam a fazer as juntas e as câmaras municipais, NÃO VOTE. Pela minha saúde.

Garanto-lhe que estas eleições não vão mudar o rumo do país, não vão aliviar as suas dificuldades, a carga de impostos ou seja o que for. Nunca aconteceu antes, não vai ser agora.

E os radicais votadores contra o partido X ou a favor do partido Y, por favor abstenham-se. São geralmente quem mais grita pelos valores democráticos sem saber nada sobre tudo isto. Fiquem em casa que está mais quentinho e confortável e distribuam frases lapidares via Facebook que o mundo inteiro pode ler-vos - até a CIA! - e essas opiniões conhecedoras do todo e desconhecedoras da parte continuarão a ditar os destinos do país nas eleições que têm esse fim em vista. Mas mais uma vez provam que o sistema nunca há-de mudar pois quem ignora o que se passa no seu pedaço de país, ignora o trabalho concreto e fácil de constatar de quem, perto de si, trabalha bem ou mal, apoiando esse sistema cego em que quem chega lá acima nunca passou pelo trabalho concreto junto das populações.

Eu, por exemplo apoiaria certamente o meu ex-presidente da junta que infelizmente não pode continuar a candidatar-se, a correr pela câmara e se estivéssemos num estado democrático de pessoas informadas e interessadas, as gentes do meu município teriam trocado informações entre si e saberiam que o presidente da junta X ou Y fez um excelente trabalho votariam nele na corrida a uma câmara. E talvez daqui a uns anos a um cargo superior. Mas como estamos no país das maravilhas, o meu futuro ex-presidente de junta, provavelmente vai afastar-se ou irá para outra junta. E quem manda nisto tudo continuará a ser um idiota que nunca fez nada por ninguém salvo por si mesmo, mas tem muitos amigos e fez muitos favores e fará muitos mais.
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Caro Octávio

2 comentários sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Achei por bem escrever-lhe em resposta aos comentários colocados na última entrada deste meu blogue. Neles, dizia-me o Octávio que uma parte da quebra das vendas de livros era devida à implementação do AO.

Como lhe disse, acredito que seja possível mas será sempre uma franja minúscula e infinitamente diminuta da população.

Não entenda que estou de acordo com o AO mas quero dar-lhe, ao acordo entenda-se, a importância devida. O referido AO é uma trapalhada linguística criada devido a interesses económicos muito claros mas mal pensados, cujos argumentos de defesa falham à partida. Não preciso de referir que um brasileiro como um português deixam de perceber o sentido de um vocábulo por este ter mais um "c" ou menos um "c" mas já vejo a complicação de um brasileiro perceber o que é um par de peúgas ou um português que não veja telenovelas, um cafuné. E não falo sequer da organização sintática das frases.

Dito isto incomoda-me a franja de resistentes ao AO. Incomoda-me que não comprem livros só por causa do AO. Isso significa que realmente não têm a paixão pelo livro. Eu li muitos livros em português do brasil quando os mesmos não estavam disponíveis em português de Portugal.

Mas também isso é um inómodo com que posso bem e, sinceramente, tem pouco peso. Há coisas que me incomodam muito mais.

Incomoda-me muito mais que os nossos jovens cheguem ao ensino universitário conhecendo e usando não mais de 500 vocábulos.

Incomoda-me a correcção política da linguagem que a esteriliza e leva a que gente com cabeça ande por aí a falar da maldita CÓ-icineração para não pronunciar "cu".

Incomoda-me sobremaneira que desde 1905 e dos primeiros censos, o número de leitores efectivos e regulares tenha diminuído.

Incomoda-me que em mais de um século as empresas de um sector constantemente em crise (o da edição) - já o diziam ao Camilo, em cartas, os seus editores - nunca se tenham efectivamente unido com campanhas continuadas e permanentes e abrangentes para conseguir novos leitores.

Incomoda-me um sistema de ensino que permite a formação de professores de português que não lêem e, como tal, não sabem incentivar a leitura (e aqui, para aqueles que gostam de ler mais do que o que escrevo, falo de uma maioria: se está indignado com o que leu, certamente não pertence a essa maioria).

Incomoda-me um sistema de ensino que permite que os jovens  cheguem ao nível universitário com essa limitação de vocabulário bem como de inteligência efectiva e os deixa terminar os cursos e lhes dá diplomas.

Incomoda-me que ninguém veja o que é escrito nos comentários aos jornais e em milhares de sites da internet. Será que ninguém percebeu que a maior parte de quem neles escreve ou comenta não sabe escrever? Será que ninguém percebe o quão gravíssimo isto é?

Incomoda-me o espartilhar da cultura que leva a que gente da "cultura" raramente perceba alguma coisa de economia.

Incomoda-me o horror aos números da mesma forma que o horror aos livros.

Incomoda-me que enquanto país não tenhamos tido a visão para nos defendermos estrategicamente na nossa posição pequena e periférica como o fizeram, com muito menos meios e muito mais reduzidas bases, os países escandinavos (facto que os conduziu à sua actual posição económico-social).

Incomoda-me perceber que não incomoda ninguém que os políticos, nas muitas escutas que vão sendi divulgadas ou nos acesos debates sobre "nada" que ocorrem amiúde no parlamento usem de vulgaridade e de linguagem baixa que se percebe ser a corrente no seu dia a dia.

Incomoda-me que a comunicação social não exerça a sua obrigação educativa. Com efeito para além das notícias mal-escritas, da qualidade pavorosa do registo de escrita e do registo oral, da inominável agramaticalidade dos textos escritos para a imprensa online. das regras vocabulares que ditam que os jornalistas não devem usar "palavras caras" que o povaréu não compreende.

Incomoda-me que não se perceba nem admita que a comunicação social, pela sua presença constante, nem que por efeito de contágio, tenha esta obrigação social, independentemente se é privada ou pública. É que, não o assumindo, corre o risco de se destruir a si própria em pouco tempo, atropelada por imprensa cada vez mais superficial estereotipada e inócua.

In comoda-me que não se aceite que o desafio é o melhor caminho para a aprendizagem.

(Certamente muitos deles já formados pelo sistema de ensino que tudo admite e tudo premeia.)

Incomoda-me essa falta de vergonha e sentido moral que é tranversal e que advém da pobreza cultural do país.

Incomoda-me a elite cultural que fecha os olhos a isto e se preocupa com tricas.

E sabe porque me incomoda tudo isto muito mais?

Porque se esses problemas tivessem sido resolvidos, o AO nunca teria sequer passado de uma ideia peregrina numa mente perturbada.

p.s. Não leia, por favor, Octávio, algum tipo de crítica pessoal. Não o conheço a esse ponto nem sei a sua posição em muitos destes pontos. Insurjo-me contra uma situação actual que só pode ser resolvida de uma única maneira: uma revolução educativa e cultural que, contudo, é a solução mais distante e impraticável aos olhos de quem comodamente se instalou no poder nas últimas largas dezenas de anos.


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Pontos de situações

3 comentários sábado, 10 de agosto de 2013
Não tenho escrito neste blogue, aliás não tenho escrito muito. Creio que já escrevi antes que não tenho a capacidade da escrita regular que é característica dos bons escritores de blogues.

Deixo-me afectar pelos tempos e pelas situações. E os tempos que correm não ajudam nada. Aquilo que sei do que se passa no meio onde sempre quis e gostaria de voltar a trabalhar assusta-me. Os números de vendas de livros são horrorosamente baixos.

Se antes os portugueses muito poucos livros compravam (não falo já do "liam"), neste momento não consigo perceber sequer como é que 80% das editoras se mantém. Devem estar em boa parte a endividar-se mais ainda para lá do que já estavam endividadas.

Neste blogue, escrevi há já algum tempo sobre o fim da edição em Portugal e temo que não me tenha enganado em quase nada. Não gosto nem quero ser profeta. Como muitos acredito que ainda hei-de voltar a trabalhar (no meu caso nesta área).

Assim e mais uma vez, desculpem a brevidade e a falta de boas notícias.
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Palhaçadas

0 comentários quinta-feira, 30 de maio de 2013
Acima de tudo porquê palhaço? Não é intenção dele fazer-nos rir (infelizmente). Ele está a ser sério mas tem efeitos cómicos. Uma pessoa culta como o MST deveria empregar termos mais precisos. Dizer que temos um Presidente ridículo é o termo mais correcto - até etimologicamente - "aquele que provoca o riso" mas que não o faz intencionalmente. Risível também serviria.

A outra grande questão é a do respeito pela posição. Quando há uns anos se debatia a questão do aborto eu tive de votar contra apesar de estar de acordo com a legalização. Aquilo que me fez tomar essa decisão é o conhecimento da falta de valores morais da nossa sociedade. Fiquei dividido entre a possibilidade de fazer um aborto - que me parecia correcta - e o facto de saber que esta possibilidade iria ser usada como meio anticoncepcional por uma sociedade inculta e desprovida de ética e moral. Como considero que a ética e a moral (não religiosa) são o cimento da sociedade, votei contra. Da mesma forma agora acho que o respeito - mesmo por quem não se dá a ele - é um valor essencial. Se abrimos precedentes para poder insultar seja quem for (apesar de "palhaço" mal entrar na minha lista de insultos leves), essa é a mensagem que transmitimos a uma sociedade que já não respeita nada. E o meu problema não está, obviamente, com a maior parte das pessoas que discutem a correcção do insulto, que se insurgem contra a sua utilização ou que a aprovam, está com os outros que tudo bebem sem degustar.

Por último, sim é verdade que Aníbal Cavaco Silva, a pessoa, tem revelado uma inépcia total no desempenho da presidência. Algumas frases e posições ditas e assumidas fazem-me recordar uma fase da vida do dr. Mário Soares há uns anos quando foi convidado pela SIC para apresentar uma série de grandes entrevistas com personalidades internacionais que marcaram o século XX (creio que Kissinger e outros), programas esses que acabaram cancelados ao fim de poucas emissões devido à alguma confusão que a idade trouxe ao dr. Mário Soares. Felizmente passado algum tempo (e certamente com mudança de medicação) a coisa passou. É verdade clara que Cavaco Silva não tem sido (na minha opinião nunca seria) o Presidente de que o país necessita nestes tempos de crise mas foi eleito democraticamente e desrespeitá-lo é desrespeitar a democracia. O que de todo nunca deverá impedir que nós, que temos consciência da inadequação, nos questionemos sobre o país e os nossos concidadãos e que percebamos, de uma vez por todas, que só uma revolução no sistema de educação e uma população culta pode tomar decisões mais conscientes e informadas. Que uma tal sociedade, acima de tudo, tem poder de análise para não insistir no erro.

Nota de rodapé:
Deve questionar-se a democracia, como se deve questionar o governo, um partido, um sistema, um presidente, quando se está pronto a apresentar uma alternativa. Confesso-me particularmente irritado com este nosso feitiozinho comodista latino de berrar do sofá insultos ao vento. Este país vive numa democracia (imperfeita dirão alguns com razão ou razões), assumamos isso e deixemos de ser uma população monárquica. Se estamos contra assumamos um papel activo politicamente. E sobretudo não sejamos apenas contra. Que a oposição seja alternativa, acima de tudo, que apresente soluções. Não podemos ser todos democraticamente críticos para a destruição e nunca apresentarmos a alternativa construtiva.
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Comunidades de Leitores

0 comentários quinta-feira, 9 de maio de 2013
Sabe o que são comunidades de leitores? Como funcionam, onde se reúnem, quais os prazeres e vantagens de ler em comunidade?

Durante a próxima Feira do Livro de Lisboa vou estar com a Sofia Ramos a conversar com os organizadores e vários membros das comunidades de leitores da área da Grande Lisboa.

Cada comunidade tem uma orgânica própria. Há as que são mais tradicionais, as que organizam passeios, as que só lêem clássicos, as que abordam autores portugueses, as que juntam os seus membros em jantares temáticos, as que convidam os autores, as que funcionam apenas para crianças incentivando hábitos de leitura e
muitas, muitas outras... 

Hoje em dia há largas dezenas de comunidades, grupos e clubes de leitores um pouco por todo o país, funcionando em Livrarias, Bibliotecas e noutros espaços. Venha conhecê-las.

A inscrição não é obrigatória. Pode aparecer sem avisar mas se se inscrever (através da página abaixo) terá desconto adicional ao desconto de feira na editora cujo livro for abordado naquele dia pela comunidade convidada.

Há mais dados e um programa com datas, livros e indicação das comunidades em causa nesta página do Facebook.

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Mais uma razão para a crise

0 comentários segunda-feira, 15 de abril de 2013
Tem sido ignorada como razão para a crise mas é uma realidade presente e confrangedora. Já todos nos cruzamos com ela nas empresas em que trabalhamos, nas instituições às quais recorremos, nos discursos e obra dos políticos.

Da mesma forma como há uma monumental ignorância da História e portanto cometer os mesmos erros não parece chocar ninguém, da mesma forma, dizia, há uma total ausência de planificação estratégica a médio ou longo prazo.

Uma empresa criada agora projecta-se no futuro pensando na sua estratégia e opções a 2 anos no máximo. Falando com algum gestor e perguntando-lhe "e como vai ser dentro de 10 anos?" a resposta não deverá fugir aos lugares comuns de sempre: "quando lá chegarmos veremos" ou "hoje em dia não é possível pensar a essa distância".

Da mesma forma as empresas e os governos, os líderes das instituições pensam as suas políticas contratuais em termos de meses ou poucos anos no máximo.

E o problema de tudo isto é não se ter ainda chegado a uma decisão: queremos empresas, instituições e políticas descartáveis? Empresas, instituições e políticas com prazo de validade cujo fim é marcado pelo recomeço ou pelo simples abandono.

No entender dos novos modelos de gestão dá muito trabalho readaptar um modelo de negócio, actualizá-lo, da mesma forma uma política. Assim é mais fácil, prático e económico fechar, terminar, concluir, quando for necessário repensar, refundar, adaptar.

E no entanto, o paradoxo é que as empresas, instituições e políticas têm como aparente objectivo "manterem-se cá" por bastante tempo.

O que acontece é simples: se um modelo se esgota, faz-se uma renovação total. E como não há memória histórica e porque toda a experiência ganha anteriormente é considerada não-válida, repetem-se erros e multiplicam-se custos. E como quem foi contratado está - e sabe-o - a prazo - planifica a coisa tendo por objectivo resultados rápidos sem se preocupar com a próxima mutação.

Claro que esta forma de funcionamento traz alguns problemas centrais: impossibilidade de fidelização de públicos, quase total impossibilidade de inovação estruturada ou políticas de crescimento continuado.

As evoluções no mundo digital têm vindo a ofuscar um pouco a nossa mundivisão. Olhando bem à nossa volta verificamos que fazem falta as grandes inovações que arrancam a humanidade dos seus momentos de crise. As inovações que realmente mudam os paradigmas e o mundo em que vivemos, aquelas que afectam de forma radical a nossa forma de vida.

Esta falta de projecção para o futuro, de inexistência da inovação dentro dos paradigmas actuais, faz-nos correr o risco sério de uma estagnação de modelos, e a economia percebe isso antes das pessoas porque vem da forma como o mundo inconscientemente pressente o futuro. 

Tive recentemente oportunidade de falar com alguns gestores que diziam ter traçado estratégias de crescimento a médio e longo prazo para as suas empresas e deparei-me com estratégias do tipo que pode ser generalizado da seguinte maneira:

"Criamos este modelo de negócio com objectivos a 2 anos. Se os objectivos forem cumpridos mantemo-nos nessa linha. caso não sejam cumpridos montaremos outro modelo [não identificado ou definido] com objectivos a 2 ou 3 anos..." E por aí adiante.
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Os ciclos da História, A Ficção-Científica, O Chipre e os Dias do Fim

0 comentários quarta-feira, 20 de março de 2013
Para quem não perceba a referência de imediato, esta é a máquina, a grande máquina que alimenta Metropolis. O filme é uma distopia assente num fundo de ficção científica mas sobretudo de uma ficção social que ameaçava o futuro de uma Alemanha e que levou à segunda guerra mundial.

A proximidade da realidade histórica com esta realidade ficcional é muito maior do que a generalidade de nós consegue hoje ver.

Anos mais tarde, no final das décadas de 60, na década de 70 e em começos da década de 80, a ficção científica, quer na literatura quer no cinema, evidenciou uma severa preocupação sobre o modo a Humanidade estava a evoluir.

Anos de desleixo e putrefacção do sistema político e social levaram a que os governantes tenham começado a violar as bases do contrato social de que o Chipre é exemplo mas também os ataques às reformas e pensões.

[Um parêntesis recto para deixar muito claro, pela enésima vez, que não sou de esquerda nem de direita. Sou e sempre fui pelas ideias que resolvem problemas e pelos Homens que as pensam.]

Esta é uma revolução silenciosa. Não é o povo que se revolta. Fomos treinados para aguentar e obedecer. A revolução está-nos a ser imposta por quem nos governa.

Na ficção científica aquilo que levou à maior parte das sociedades distópicas foi a criação de uma sociedade harmónica baseada no hedonismo. A proliferação não natural da espécie. O crescimento desmesurado da espécie num mundo incapaz de suportar uma tal realidade. Assim nalguns livros e filmes as sociedades matavam os seus velhos e enfermos (ou pura e simplesmente os que ultrapassassem os 30 ou 40 anos), noutras os alimentos frescos eram reservados para as elites e os restantes consumiam uma matéria verde-feijão que por acaso advinha do tratamento da matéria morta retirada de cadáveres humanos. Noutros eram criadas guerras artificiais para controlar a população... Os exemplos são múltiplos e variados.

Em todos esses filmes e livros há um enorme fosso entre classes. Os que vivem bem acima e os que os amparam nos ombros com o seu trabalho, suor e sangue.

Em todos esses livros e filmes às classes exploradas é negado o acesso ao conhecimento histórico para que a comparação da sua realidade com outras não seja possível. Para essas classes exploradas, o acesso à cultura e conhecimento é substituído pela fé (uma fé desligada da realidade e inútil), pela disciplina e pela austeridade.

E as revoluções que possam nascer da ignorância e do desconhecimento histórico não são verdadeiras revoluções. São mera substituição de posições. mera troca de poderes. Um mero atraso na contínua corrupção dos sistemas.

Em todos esses filmes e livros, a generalidade dos governantes e dos processos que levam às situações extremas são bem intencionados no começo mas acabam por se tornar protectivos das classes dominantes. isto não são doutrinas de esquerda nem interpretações marxistas. O Poder é algo viciante, isolador e que pressupõe uma insatisfação constante na sua demanda (Tolkien já o tinha exemplificado).

Todas essas sociedades, enveredando por diversos caminhos, chegaram a resultados semelhantes.

Também nós para lá caminhamos. A passos muito largos. 

E a grande evidência é que todos sabemos que quem governa não nos pode salvar desse abismo. Não que a solução não seja política, a solução passa sempre pela polis e pela sociedade. O modelo é que não serve, o modelo é que se esgotou, os políticos é que o perverteram. O erro é sempre humano.

Mas são uma boa parte dos políticos instalados que impedirão a mudança de modelo. Por vezes não por má intenção, repito, mas porque não concebem outra realidade senão aquela na qual se instalaram e que lhes é confortável (e isto vale para esquerdas e direitas). E vale para sistemas bancários e económicos e para os modelos sociais.

Daí que devêssemos todos estar bem atentos à revolução que se está a dar. São os dias do fim do modelo vigente. Segue-se-lhes a revolução da substituição de poderes. mas estes dias do fim serão, como são sempre, dolorosos e terríveis. Mais uma vez, como tantas ao longo da sua história, a Humanidade sofrerá por sua causa. Os culpados somos todos nós.

O paradoxo nunca poderá ser evitado: todos devem ter acesso à História e à cultura em geral. Mas terão sempre de existir alguns capazes de uma visão de conjunto. aqueles que conseguem perceber a sociedade e os seus mecanismos. E esses deveram sempre governar mas, com o passar do tempo, acabarão sempre substituídos pelas escolhas do povo que não tem a visão de conjunto mas que, num sistema democrático é quem mais ordena, sem cultura e sem conhecimento histórico.


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Ban Joe?

0 comentários segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

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Status Quoi?

1 comentários terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Pude confirmar hoje - já tinha ouvido - que, de acordo com dados da GFK, durante a minha estada na Babel fui o editor com mais vendas efectivas e portanto o que mais dinheiro deu à editora. Não estou contente pelo factor dinheiro nem nunca tive qualquer pretensão a concorrer com os meus colegas. Mas sinto-me verdadeiramente orgulhoso porque posso provar um ponto que defendo há muito tempo: com trabalho sério, a boa literatura também vende. E é de notar que se conseguiu esta situação numa altura em que a Babel não fazia qualquer tipo de comunicação ou marketing.

E na senda das boas notícias, soube que, apesar de continuar desempregado, estou entre os 5% de perfis mais vistos do Linkedin! 
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A crise artificial

0 comentários sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
No magnífico discurso do Dr. Marinho Pinto na abertura do ano judicial de 2013 (não estou a ser irónico, acho que é um discurso brilhante e importante), este falava da criação de uma crise artificial.

O Dr. Fernando Ulrich, com bem menos capacidades discursivas, anda a tentar dizer o mesmo (mas não consegue).

Quando se fala dessa criação de uma crise artificial não se está a dizer que a crise não existe. Apenas que os contornos que lhe são dados não são os verdadeiros. E isto é possível devido à ignorância do povo português e à sua parca vontade de se informar para lá dos discursos oficiais e suas cópias transmitidas pela maior parte da imprensa.

Em primeiro lugar (e último) é essencial compreender que não era o país que estava à beira da falência mas o Estado. É necessário entender que se o Estado falisse - e era bom que a acontecer, acontecesse connosco ainda dentro da zona Euro - os cidadãos e as empresas, tendo os seus bens acautelados, continuariam a viver.

Como num qualquer processo de insolvência, a comunidade internacional nomearia alguém para gerir o processo. Seria feito um levantamento - tão necessário - dos bens reais e efectivos do Estado, seria feito um apuramento sobre eventuais manobras ilícitas que pudessem ter conduzido à referida situação, e iniciava-se um processo de retorno aos credores do máximo de valor da dívida do Estado perante eles. Nessa altura seria recomendável que o povo, enquanto um todo se reunisse e se apresentasse como um único cliente para ganhar força perante outros credores.

Todos nós enquanto "accionistas" do Estado deveríamos lutar por reaver o máximo do que lá colocamos.

O que poderia acontecer de mais grave? Que algum outro Estado invocasse como forma de saldar a dívida do Estado português para com ele, uma passagem de soberania. Isto pode parecer assustador mas acredite o leitor que não incomodaria quase nada a maior parte do povo, pudesse este manter a sua língua e que as condições de vida se passassem a assemelhar à desse outro país. Com impostos mais baixos e leis e mecanismos públicos mais eficazes. Se ademais considerarmos o total desconhecimento do nosso passado histórico nas gerações mais novas (uma ou duas acima de mim até às dos meus vizinhos mais novos, a falta de orgulho no nosso país, nas suas instituições e conquistas, etc., perceberemos que pouca mossa faria.

Mais ainda se considerarmos que a situação a que se teria chegado derivava da má gestão dessa empresa chamada Estado, da forma como tem sido feita desde o 25 de Abril em que uma onda de Liberdade varreu os conceitos de autoridade, disciplina, responsabilidade e mérito para os substituir por coisas primárias. note-se que não defendo a tirania, apenas digo que, como boa parte das tiranias, era organizada, competente e funcional coisa que não aconteceu na gestão da coisa pública nos anos que se seguiram e em anos recentes se veio a exacerbar.

Concretamente é então necessário perceber onde está a falhar o contrato do Estado com os seus cidadãos. Não falo sequer do contrato social, falo do contrato simples de prestação de serviços. O Estado português é o maior responsável por processos de insolvência de empresas portuguesas devido aos atrasos nos pagamentos. É esse Estado que, ainda assim se sente capaz de criticar, multar e penalizar duramente quem para com ele não cumpre os ditos prazos de pagamento.

A situação apontada pelo Dr. Marinho Pinto relativamente aos tribunais arbitrais é uma situação que, no seu âmago, o menos atento dos portugueses já tem por adquirida, a incompetência e corrupção do Estado e os efeitos lesivos que agora os cidadãos sentem.

A cultura dos robalos e alheiras é uma coisa antiga portuguesa; a nossa incompetência governamental já na época dos romanos era descrita: "Há, nos confins da Ibéria, um povo que não se governa nem se deixa governar" (Júlio César); a presença desta corrupção e incompetência nada tem que ver com os modelos governativos ou com os sistemas. Acontecia na monarquia, acontece na república e na democracia. Tudo isto só é possível devido à falta de educação social e moral. Uma educação de valores e de mérito.

Queixem-se à vontade, estrebuchem o que entenderem, mas garanto-vos que num caso extremo como o acima descrito, uns milhões de portugueses dariam imensa importância ao facto de as suas equipas poderem ombrear nos campeonatos futebolísticos com os grandes do país que assumisse a soberania sobre este rectângulo à beira-mar plantado e ficariam somente preocupados em saber se faria sentido o Tony Carreira continuar a ser considerado o maior artista português.

Enquanto esta situação não for corrigida, podem continuar a dizer-nos que esta crise é assim e assado que a maior parte de nós engole e a outra não tem força para se fazer ouvir.
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