Hoje estive a ouvir um pouco do debate na Assembleia da República sobre a questão dos transportes e senti-me iluminado. Queria partilhar convosco a razão de isto andar como anda.
Numa empresa em que trabalhei, chegou-se um dia à conclusão de que não havia dinheiro. Nunca passou pela cabeça de quem geria tal projecto que a gestão fosse inadequada - apesar desses gestores não saberem nada sobre a área da empresa que tinham sido convidados para gerir - a culpa era da crise.
Qualquer das pessoas que, como eu, andam cá já uns aninhos nas lides da área em que operava essa empresa percebiam que a gestão era inadequada ao negócio e às suas muito específicas circunstâncias e singularidades.
Como é um sector em crise crónica (não se esqueçam de ir fazendo paralelismos com o que se passa na governação de Portugal - e não só deste governo mas dos vários governos ao longo de anos e anos), achou o patrão que aquilo que faltava ao sector eram gestores.
E assim foi, chegados os gestores a um negócio que estava em processo de falência por todo o seu modelo ter sido pensado por quem nada sabia do sector (gestores também aconselhados por uma das pessoas com pior reputação na área - coisa que esses gestores nem se preocuparam em apurar), não conhecendo portanto o público-alvo/cliente e as suas necessidades e muito menos tendo conhecimentos que lhes permitissem avaliar a eficácia dos seus subalternos uma vez que não é posível avaliar sem se ter o conhecimento superior daquilo que se avalia, não conhecendo processos e muito menos percebendo a mecânica comercial do sector. Foi assim, dizia, que passados alguns meses os gestores comunicaram a sua solução para os problemas graves.
Primeiro chegou um e-mail que falava na redução de custos necessária: iria deixar de haver fruta na copa e pedia-se a maior cotenção possível na impressão de fotocópias e documentos. Com essas e outras medidas conseguiam reduzir imenso os custos. A seguir vieram os despedimentos.
Hoje na AR falava-se dos cortes de carreiras, linhas ferroviárias, percursos de barco e outros que vão impedir uma faixa da população de se deslocar e cortar, portanto, o acesso a educação ou saúde; cria-se uma situação complexa a quem não tem outro meio de deslocação para chegar ao seu local de trabalho; isolam-se algumas povoações, ostracizam-se outras votando-as ao degredo social e com tudo isso poupam-se cerca de 20 milhões de Euros ao ano em empresas que têm dívidas de milhares de milhões.
Meus amigos, como é que alguém espera ou pode esperar medidas concretas e "boas" por parte dos governantes quando estes nada sabem das áreas sobre as quais decidem e muito menos ouvem quem sabe?
Estou farto de dizer que só há uma maneira de se resolverem os problemas do país: os políticos portugueses deveriam ser absolutamente obrigados a usar o serviço nacional de saúde, os transportes públicos, os seus filhos deveriam estar em escolas públicas... se isto acontecesse estas pessoas poderiam ter intervenções úteis.
Não precisamos de responsabilizar criminalmente os políticos.
Precisamos de os por ao nosso nível para que eles percebam os problemas
de quem está abaixo do palanque.
Somos uma sociedade hipócrita em que quem manda grita mais alto. Quem manda vive rodeado de yespeople que ausculta os especialistas nas diversas áreas, mas depois verifica-se que esses especialistas afinal não são especialistas e sim pessoas que estão à frente de empresas e instituições por nomeação política. Ninguém sabe de nada, mas decidem sobre tudo. E fazem-no porque não os afecta directamente.
p.s. ouvido hoje numa paragem de autocarro:
- Opá o Catroga agora é que deve tar arrependido de se ter metido na política que bastava o passado dele nas grandes empresas para justificar que esteja na EDP e não dar azo a estas bocas...
- Hummm... mas se não se tivesse metido na política provavelmente nnca teria construído o passado que lhe permitiu estar hoje onde está.
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