Sintoma

0 comentários sábado, 30 de outubro de 2010
Os amigos dos meus vizinhos tocam sempre à minha campainha. Compreendo. É natural na situação actual do nosso país que se confunda constantemente a esquerda com a direita e vice-versa.
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O último homem

2 comentários quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Não vou falar sobre o livro senão para dizer que, pessoalmente (com toda a subjectividade que há num editor que fala de um livro que está a publicar), considero este um dos grandes romances do século XX.

Falo sobretudo sobre esse grande personagem que foi M. P. Shiel, primeiro rei - Felipe - de Redonda, um rochedo deserto perto da ilha de Montserrat, no Caribe, local onde nascera. Falo do amigo de Salvador Dalí e Reynolds Morse. Sobretudo falo do escritor excêntrico, considerado por quase todos os grandes nomes da literatura, seus contemporâneos e seus herdeiros, como o grande escritor que ninguém conhecia. Um escritor para escritores. Falo do homem que viu a quase todas as suas obras enfiadas em escaparates dedicados à literatura fantástica quando as suas obras são, acima de tudo, portentos em que a filosofia e a simbologia ocupam grande parte de enredos magníficos. Quem já leu o conto fin-de-siècle que divulguei neste blogue, ter-se-á já apercebido de tal.

É um escritor acima de muitos, de quase todos; um escritor que não escreve fantasia ou ficção científica e, no entanto, é fantástico e antecipa muito do que se veio a escrever, pensar e reivindicar ao longo do século que se lhe seguiu. Nesta obra, por exemplo, é ecológico, teológico, aventureiro, questionante, muito perturbador e - sempre - genial.

Ah, e sobre quem seja o último homem... só mesmo lendo o livro.
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Pimpineirização

0 comentários quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Ontem vi o frente a frente da SIC notícias com o António Barreto e o Miguel Sousa Tavares e cheguei à triste conclusão que a actual situação socio-económica do país teve este particular efeito: todos os comentadores acabaram de se transformar em Medinas Carreiras.
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Bolaño dixit

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Bolaño dizia que era impossível parar de ler qualquer história escrita por Pablo Simonetti. A nova coqueluche das letras sul-americanas é um fenómeno imparável. Saiu do Chile para o mundo depois de conseguir várias proezas: ganhou os prémios mais importantes, foi louvado por toda a crítica literária e ao mesmo tempo destronou por três vezes consecutivas (as dos seus três romances) Isabel Allende dos tops de vendas (e isto é totalmente inédito). Aliado a tudo isto, diz-me uma das minhas assistentes, é giro.

Os temas são mundanos mas a profundidade, sentido de humor, e o simples talento literário catapultam a qualidade da escrita deste autor para uma dimensão apenas ao alcance de muito poucos: aqueles raros nomes que sendo brilhantes agradam a gregos e troianos (entenda-se ao público erudito e ao não tanto).

Gostava de saber a vossa opinião. 
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Surpresa, Surpresa

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Foi uma daquelas coisas. Um dia pus-me a pensar: quem, de entre aqueles génios do cinema, poderia ter escrito um grande livro? Orson Welles foi o nome que me surgiu de imediato. Atirei-me à Amazon descrente para ser surpreendido. Havia um livro, melhor - um romance!

Depois surgiram as questões: terá sido mesmo Welles a escrever o livro? O seu secretário? Terá Welles ditado o livro a outra pessoa? Sabe-se apenas de onde veio a base da história: do grande filme que Welles nunca realizou. Com efeito, a meio da realização de Mr. Arkadin, Welles viu serem-lhe cortadas as pernas (a nível orçamental). Esteve para repudiar o filme e retirar o seu nome. Este livro, publicado poucos anos depois tem por base as notas de Welles que pretendia ultrapassar «Citizen Kane» e criar o fresco da sociedade contemporânea e de todo o século XX vivido até à altura.

A ideia da investigação do passado obscuro de um multimilionário internacional amnésico cruzava personagens do «Terceiro Homem» de Graham Greene e da continuação das aventuras de Harry Lime que Welles desenvolvera em novela radiofónica. Mas outros personagens de outros filmes, de outras produções radiofónicas de outras obras literárias cruzariam o enredo construindo um retrato panorâmico inigualável.

A maestria com que está escrito é, também ela, inegável o que demonstra a mão presente e firme de Welles. Se todas as palavras são suas ninguém o virá a saber mas que a importância do livro para a compreensão do homem e do seu tempo e, a um nível mais geral, a relevância da obra em termos literários ecinematográficos - em termos culturais no geral - é algo indiscutível.

Venham conhecer esta «sórdida vida secreta» do século XX.
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Quem conta tais contos?

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Lembrar-se-ão alguns da Cláudia Clemente cujo livro de estreia, «Caderno Nergro» (2003), foi louvado pela crítica como obra revelação de um grande novo talento. Após a publicação desse livro a Cláudia, poli-artística, dedicou-se a outras artes e outros vôos - apesar de ter continuado a publicar contos em diversas revistas e antologias.

Coincidiu com a minha chegada a esta casa que a Cláudia tivesse decidido voltar a publicar. E assim surgiu este «A Fábrica da Noite» que retoma o percurso de escrita de uma grande autora.

Mantém muito do ambiente fantástico que cruzava os seus primeiros contos mas a escrita evoluiu. Agora é mais abrangente. Há contos para todos os gostos mas o estilo é único e a atmosfera é minuciosamente construída com uma oncisão ímpar, sejam os contos eróticos, fantásticos, quase detectivescos ou frescos de cantos alternativos da nossa realidade. 
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Patifes... como nós

1 comentários domingo, 17 de outubro de 2010
Durante anos o império britânico "exportou" para a Oceania o que de pior produzia - falo de seres humanos. A escumalha das ilhas britânicas e os membros menos obedientes dos exércitos de Suas Magestades encheram barcos e barcos a caminho daquelas terras longe de tudo.
No final do século XIX a coisa alterou-se ligeiramente: algumas rotas marítimas importantes começaram a fazer da Austrália algo mais do que uma prisão distante e pouco incómoda. a própria modernidade intelectual já não permitia a culpabilização das gerações de filhos da escumalha. Ainda assim e apesar das mudanças a vida não era fácil naquele mundo distante.
***
Noutro dia, ao passar na FNAC do Chiado descobri este livro delicioso - que pelos vistos vem já na sequência de um outro do mesmo autor (Peter Boyle) - «Crooks like us» publicado em Sydney pelo Historic Houses Trust é uma viagem espantosa ao arquivo fotográfico da polícia de Sydney nas primeiras décadas do século XX.
 Homens e mulheres desfilam face à máquina do tempo que os preservará até hojeao mesmo tempo que o seu autor procura recnstituir, como um detective do tempo, as suas vidas e os seus crimes. O livro inclui um notável estudo social e criminal sobre estes homens e as suas circunstâncias.
 Será que por cá temos arquivos como estes? e os ficheiros da polícia a eles respeitantes... existem ainda? Se alguém souber gostaria de fazer algo semelhante por cá. Enquanto isso vou procurar o outro livro do autor.

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Romance de um homem simples

0 comentários sábado, 16 de outubro de 2010

Não sei porquê mas sempre que leio estes grandes nomes da literatura de inspiração judaica, sobretudo os que escreveram na Europa entre o século XIX e o século XX, fico deslumbrado. Parecem ser quase todos excepcionais.
O meu fascínio terá começado ao ler Schwarz-bart mas depois naveguei por outros nomes e escritores e há uns anos atrás cheguei a Roth, este, o Joseph, que há outros. a sua escrita aparentemente simples e os grandes dramas da existência e da fé desenhados sem hiperbole e com uma maestria singular marcaram-me pessoalmente.
Assim quis começar este novo projecto da Ulisseia com uma das obras essenciais de Joseph Roth, talvez, segundo alguns, a sua obra-prima. Pessoalmente creio que é um dos melhores romances do século XX, escrito quando esse mesmo século era ainda criança mas já tinha sofrido bastante.
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Mariana

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Outro dos projectos que tinha há muito tempo era a publicação das obras da Maria Judite de Carvalho. Uma escritora que esteve sempre um pouco na margem das grandes correntes e dos grandes nomes da nossa literatura mas cuja obra merece ser de novo trazida à ribalta. Este é o primeiro volume que, espero, possa vir cumprir um pouco essedesígnio.
Para quem não conhece, a escrita de MJC bebe um pouco do "nouveau roman" mas é sobretudo na poesia contida, na imagem e na atmosfera claustrofóbicas de um mundo vazio cheio de solidão que está o segredo de um estilo ímpar.
Espero que gostem.
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Um dos grandes livros de viagens de todos os tempos e uma história imortal.

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Amigo pessoal de Oscar Wilde, Henry DeVere Stacpoole, abandonou Inglaterra pouco após o início dos julgamentos do amigo.Médico embarcadiço, mal voltou a pisar solo das ilhas britânicas. Fez as carreiras do Pacífico e do Índico onde ouviu as histórias exóticas das rotas frequentadas e daquelas que raramente eram sulcadas.

Escreveu muito, quase tudo ficção inspirada nas suas andanças por aqueles incomuns cantos do mundo. Escreveu um livro que foi provavelmente o primeiro best-seller silencioso do século XX: «A Lagoa Azul».

Este livro tinha-o na ideia há muitos anos. Pedi ao Nuno Batalha para fazer a tradução e goistava de vos desafiar à sua leitura. É um livro escrito num estilo e com um espírito de outras épocas, quando o mundo era mais jovem e ainda cheio de desconhecidos como a vida dos dois jovens protagonistas.

Sctacpoole teve de escrever mais 8 livros que continuaram a história dos personagens, tal o sucesso deste livro que teve sempre edições sucessivas em língua inglesa até hoje. Esta é a primeira edição portuguesa.
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