Tenho falado com muita gente que anuncia e defende a chegada próxima do digital à edição de literatura. Eu faço uma análise algo diferente. se é certo que há muitos entusiasmados com a questão, não vejo, ainda assim, uma grande maioria dos "leitores habituais" a fazer essa transição.
Há vários motivos para isso. Inerente ao facto de se ser um "leitor" está uma propensão para a desconfiança das tecnologias. Isto, claro está, no que toca a uma geração de leitores com alguns anos de prática. No que toca aos novos leitores, os quais, só esporadicamente eram incentivados a ler, poderão experimentar por curiosidade mas se não tiverem hábitos de leitura, ficarão pela curiosidade3 ou pelo lado técnico-pratico de textos disponíveis online.
Mas não ficamos por aqui: o livro é uma comodidade cultural logo, um bem prescindível: os editores que digam quanto sentem as crises económicas ou mesmo a concorrência (lembram-se de uma feira do livro que coincidiu há poucos anos com um evento desportivo futebolístico e com um rock in rio?). O livro digital, podendo ser mais barato - e nunca será muito mais - vai estar associado a leitores digitais, que são caros. Ora se pensarmos que os leitores habituais já se queixam do preço dos livros...
Mas há mais, ainda não há um modelo internacional racional e aceitável para resolver as questões de direitos e traduções e coisas que tais. Enquanto um modelo legal e comercial não for implementado e testado - e acreditem que não vai ser Portugal a fazê-lo pela dimensão e falta de meios - será implementado no resto do mundo adequando-se às realidades de cada país.
Daí que eu defenda que a chegada do livro digital será uma realidade em Portugal mas apenas dentro de 10 a 20 anos. É preciso resolver uma questão funcional e comercial, uma questão legal e, no nosso país, uma questão geracional e cultural. E se, nos livros técnicos ainda acho que, por alto a questão poderá resolver-se com alguma celeridade, na literatura a coisa será mais complicada.
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