De novo Isaac Bashevis Singer
1 comentários sexta-feira, 27 de julho de 2012"Fiction in general should never become analyic. As a matter of fact, the writer of fiction should not even try to dabble in psychology and its various isms. Genuine Literature informs while it entertains. it manages to be both clear and profound. It has the magical power of merging causality with purpose, doubt with faith, the passions of the flesh with the yearnings of the soul. It is unique and general, national and universal, realistic and mystical. While it tolerates commentary by others, it should never try to explain itself. Those obvious truths must be emphatized, because false criticism and pseudo-originality have created a state of literary amnesia in our generation. The zeal for messages has made many writersforget that storytelling is the raison d'être of artistic prose."
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Da note do autor a The Collected Short-stories, NY, 1981
Clara Ferreira Alves e a falta de cultura
8 comentários quarta-feira, 25 de julho de 2012A recente crónica de Clara Ferreira Alves (CFA) "É a falta de cultura, estúpido", constituí um bom retrato do que se passa no nosso país e em boa parte do mundo. Ainda assim nalguns pontos acho que foi longe de mais e noutros acho que não teve coragem para dizer o que queria - ou espaço.
O Modernismo e os modernistas já falavam abertamente da nova era a que se chegava em que nada surgia de diferente ou inovador. A arte e a cultura"novas" teriam de ser re-arranjos originais do pré-existente. Tudo o que veio depois do Modernismo é isso: tentativa de moldar novas conexões com materiais antigos.
O problema nunca seria a cópia mas a má cópia, a cópia que perde qualidade relativamente ao original.
Para mim toda essa discussão é inútil e pouco acertada.
CFA esteve quase lá mas não disse o que tinha de ser dito. Não é verdade que a elite culta (ou consumidora de cultura) seja velha e não tenha sucessores. E sobretudo não é verdade que esteja a diminuir ou desaparecer. Sempre foi estupidamente reduzida. Sempre teve presença minoritária no poder, na religião, na Universidade, na administração, nas ciências, etc., etc. O problema é que actualmente foi empurrada para fora dos círculos de decisão. A Cultura, outrora respeitada, deixou de ser pertinente.
E qual o mal que isso arrasta? Um mal simples e terrivelmente pernicioso: a ausência de memória. A Cultura é memória, mais! é memória abrangente, diversa, polifónica, transversal. E é claro que num mundo "especializado", a visão de conjunto, a escolástica, a pluralidade do conhecimento, não têm lugar.
Sem memória repete-se o erro. Sem memória perde-se a civilização. Os exemplos vêem de todo o mundo: em virtude de um qualquer evento que prive a sociedade de um qualquer "bem" adquirido (electricidade, comida, água, gás, transportes, etc.) a população dá imediatamente o passo seguinte: o passo para o caos e para a barbárie. Motins, vandalismo, violência gratuíta.
A Cultura é a base de dados do que a Humanidade adquiriu - daí que eu deteste que se associe cultura com a Literatura. A Cultura tem de ser geral. Tem de ser um repositório do Homem integral. Das ciências humanas mas também das exactas; tem de ser o arquivo das conquistas da sociedade e dos seus fundamentos. E tem de ser transmitida transversalmente: não se aprendem valores sem conhecimentos, não se aprende disciplina sem organização/ordem, não se avança sem uma boa base de passado.
A diferença é visível e compreensível se compararmos Portugal e a Islândia e as diferentes reacções perante a crise.
Nós vivemos cada vez mais para o nosso umbigo. A nossa especialização é em nós mesmos (daí o Ministro Relvas ser Dr. antes de ser Dr.). Daí podermos atropelar os outros sem pruridos. Daí podermos ser espezinhados sem nos agitarmos.
E o problema actual foi que ao deixar-se afastar do respeito e da sua pequena mas pertinente influência junto do poder, a elite culta não tem força para lá voltar. A culpa não foi do Jornalismo, não foi da Política, não foi da Filosofia; a culpa foi da elite culta que foi preguiçosa. Que se demoveu das suas obrigações societárias.
Qual a única solução que vejo? Que a Elite culta forme os seus sucessores, que estes façam o mesmo para os que se hão-de seguir. Uma boa formação, o despertar do interesse, da motivação e do mérito conseguem angariar mais fiéis. É um trabalho de fundo e de fé. As próximas gerações terão pouca ou nenhuma percepção dos resultados. Não tentemos salvar todos, tentemos salvar os possíveis.
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O Modernismo e os modernistas já falavam abertamente da nova era a que se chegava em que nada surgia de diferente ou inovador. A arte e a cultura"novas" teriam de ser re-arranjos originais do pré-existente. Tudo o que veio depois do Modernismo é isso: tentativa de moldar novas conexões com materiais antigos.
O problema nunca seria a cópia mas a má cópia, a cópia que perde qualidade relativamente ao original.
Para mim toda essa discussão é inútil e pouco acertada.
CFA esteve quase lá mas não disse o que tinha de ser dito. Não é verdade que a elite culta (ou consumidora de cultura) seja velha e não tenha sucessores. E sobretudo não é verdade que esteja a diminuir ou desaparecer. Sempre foi estupidamente reduzida. Sempre teve presença minoritária no poder, na religião, na Universidade, na administração, nas ciências, etc., etc. O problema é que actualmente foi empurrada para fora dos círculos de decisão. A Cultura, outrora respeitada, deixou de ser pertinente.
E qual o mal que isso arrasta? Um mal simples e terrivelmente pernicioso: a ausência de memória. A Cultura é memória, mais! é memória abrangente, diversa, polifónica, transversal. E é claro que num mundo "especializado", a visão de conjunto, a escolástica, a pluralidade do conhecimento, não têm lugar.
Sem memória repete-se o erro. Sem memória perde-se a civilização. Os exemplos vêem de todo o mundo: em virtude de um qualquer evento que prive a sociedade de um qualquer "bem" adquirido (electricidade, comida, água, gás, transportes, etc.) a população dá imediatamente o passo seguinte: o passo para o caos e para a barbárie. Motins, vandalismo, violência gratuíta.
A Cultura é a base de dados do que a Humanidade adquiriu - daí que eu deteste que se associe cultura com a Literatura. A Cultura tem de ser geral. Tem de ser um repositório do Homem integral. Das ciências humanas mas também das exactas; tem de ser o arquivo das conquistas da sociedade e dos seus fundamentos. E tem de ser transmitida transversalmente: não se aprendem valores sem conhecimentos, não se aprende disciplina sem organização/ordem, não se avança sem uma boa base de passado.
A diferença é visível e compreensível se compararmos Portugal e a Islândia e as diferentes reacções perante a crise.
Nós vivemos cada vez mais para o nosso umbigo. A nossa especialização é em nós mesmos (daí o Ministro Relvas ser Dr. antes de ser Dr.). Daí podermos atropelar os outros sem pruridos. Daí podermos ser espezinhados sem nos agitarmos.
E o problema actual foi que ao deixar-se afastar do respeito e da sua pequena mas pertinente influência junto do poder, a elite culta não tem força para lá voltar. A culpa não foi do Jornalismo, não foi da Política, não foi da Filosofia; a culpa foi da elite culta que foi preguiçosa. Que se demoveu das suas obrigações societárias.
Qual a única solução que vejo? Que a Elite culta forme os seus sucessores, que estes façam o mesmo para os que se hão-de seguir. Uma boa formação, o despertar do interesse, da motivação e do mérito conseguem angariar mais fiéis. É um trabalho de fundo e de fé. As próximas gerações terão pouca ou nenhuma percepção dos resultados. Não tentemos salvar todos, tentemos salvar os possíveis.
A grande História de José Hermano Saraiva
3 comentários domingo, 22 de julho de 2012Tem-me irritado bastante ver as reacções de grande parte da comunidade de historiadores e "gente de cultura" à morte de José Hermano Saraiva. Sobretudo e em primeiro lugar porque não são reacções ao falecimento mas à pessoa. Não é nem o tempo nem o lugar de as fazerem. É uma tremenda falta de respeito para com familiares e amigos. (Uma situação que parece começar a generalizar-se no âmbito da cultura.)
Em segundo lugar as críticas que são feitas - de que se tratava de um falso historiador, de um romancista/ficcionista da história dando importância à lenda e a história sensacionalista e sem bases - é uma crítica falhada. Na minha relação com os programas do JHS sempre senti o entusiasmo que passava e a notável capacidade de criar ligações entre as várias histórias. Isso é e foi sempre sinal de inteligência. Raramente me lembro de o ter ouvido a dizer que era historiador. Considerava-se um divulgador de História e, neste país de incultos, conseguir transmitir como ele o fez, entusiasmo e vontade de saber, conseguir levar pessoas a visitar os locais que referia e interessar as populações locais pelos seus monumentos e lendas (coisas que nunca aconteceria de outra maneira), é obra. E quem quisesse saber mais ou quem quisesse saber a "verdade", que investigasse - ele deixava as pistas. No meu entendimento esse é o verdadeiro valor do "ensino": despertar curiosidade e entusiasmo porque só desses pode partir a vontade individual de saber mais. O ensino massacrante e monocórdico de factos, o despejar de conhecimentos de forma insossa é estéril.
Se eu fizer um inventário de tudo o que me levou sempre a interessar-me pela História e pelas suas personagens e eventos, dou por mim a pensar nos desenhos animados das "Misteriosas Cidades do Ouro" que me levaram a comprar, ainda miúdo, vários livros 'sérios' sobre as civilizações pré-colombianas. Ainda hoje sei dizer nomes complicados de cidades Maias e Incas bem como a ordem cronológica das civilizações ou a sua dispersão geográfica. E sei muito bem que os Olmecas não eram uma tribo de extra-terrestres. Os romances históricos de Walter Scott que me deixaram ainda hoje um interesse tremendo pelo período das cruzadas a tal ponto que quando vi o filme "O reino dos céus" do Ridley Scott me ri dos erros históricos - tinha investigado muito no intervalo de tempo da minha leitura de "O talismã" com 11/12 anos até a essa altura - isso não me impediu de gostar do filme e ver, também, as algumas coisas certas que lá estavam retratadas. Após o filme fui comprar uma caríssima e única existente biografia do Rei leproso de Jerusalém.
Os exemplos acima são apenas dois dos muitos que poderia referir. Mas gostava mesmo que a maioria dos críticos de JHS olhasse para a sua memória consciente e me dissesse o que os motivou e cativou para a História. Tenho a certeza que a maior parte terá pontos de ligação com experiências semelhantes às minhas ou com leituras dos grandes livros da historiografia romântica - tão próximos afinal dos programas de JHS. A ficção é a melhor maneira de despertar interesse para a pesquisa da verdade. Mas os limitados que acham que a ficção é composta apenas de uma camada, que não há intenção, que não há emoção que não há o mistério que leva ao caminho para a Luz (não o estádio); esses serão sempre os falhados na sua capacidade de motivar e iluminar os outros.
Nada nesta vida é plano e uno. Nada na História é o que é. Estou a ler agora a única biografia de Tamerlão - se não sabem quem foi, investiguem - e a descobrir que anos de historiografia oficial chinesa e sobretudo soviética criaram uma parede de desinformação que ainda hoje leva os que procuram saber alguma verdade a lutar contra moinhos.
Já não me lembro quem disse que a História era escrita pelos vencedores. É uma verdade e nessa guerra JHS levou a melhor contra todos os outros. Se metade da "sua" História eram mentiras, lendas e factos por confirmar, não me interessa. Tenho a certeza de que quem seguiu os seus programas ainda hoje, ao viajar pelo nosso país pára nos monumentos e visita os museus locais para saber mais, conhecer lendas, e perceber o que realmente se passou. O resto são egos feridos.
p.s. E não me venham com a velha história do comentário cobarde pós 25 de Abril de que Camões era um trabalhador. Naquele tempo e para JHS que tinha sido Ministro do Estado Novo essa foi a estratégia de sobrevivência e provavelmente a maneira de ficar num país que amava e cuja História o inspirava. Cobardes somos nós que deixamos os nossos governantes espezinhar-nos e cortamos na casaca de quem acabou de morrer.
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Em segundo lugar as críticas que são feitas - de que se tratava de um falso historiador, de um romancista/ficcionista da história dando importância à lenda e a história sensacionalista e sem bases - é uma crítica falhada. Na minha relação com os programas do JHS sempre senti o entusiasmo que passava e a notável capacidade de criar ligações entre as várias histórias. Isso é e foi sempre sinal de inteligência. Raramente me lembro de o ter ouvido a dizer que era historiador. Considerava-se um divulgador de História e, neste país de incultos, conseguir transmitir como ele o fez, entusiasmo e vontade de saber, conseguir levar pessoas a visitar os locais que referia e interessar as populações locais pelos seus monumentos e lendas (coisas que nunca aconteceria de outra maneira), é obra. E quem quisesse saber mais ou quem quisesse saber a "verdade", que investigasse - ele deixava as pistas. No meu entendimento esse é o verdadeiro valor do "ensino": despertar curiosidade e entusiasmo porque só desses pode partir a vontade individual de saber mais. O ensino massacrante e monocórdico de factos, o despejar de conhecimentos de forma insossa é estéril.
Se eu fizer um inventário de tudo o que me levou sempre a interessar-me pela História e pelas suas personagens e eventos, dou por mim a pensar nos desenhos animados das "Misteriosas Cidades do Ouro" que me levaram a comprar, ainda miúdo, vários livros 'sérios' sobre as civilizações pré-colombianas. Ainda hoje sei dizer nomes complicados de cidades Maias e Incas bem como a ordem cronológica das civilizações ou a sua dispersão geográfica. E sei muito bem que os Olmecas não eram uma tribo de extra-terrestres. Os romances históricos de Walter Scott que me deixaram ainda hoje um interesse tremendo pelo período das cruzadas a tal ponto que quando vi o filme "O reino dos céus" do Ridley Scott me ri dos erros históricos - tinha investigado muito no intervalo de tempo da minha leitura de "O talismã" com 11/12 anos até a essa altura - isso não me impediu de gostar do filme e ver, também, as algumas coisas certas que lá estavam retratadas. Após o filme fui comprar uma caríssima e única existente biografia do Rei leproso de Jerusalém.
Os exemplos acima são apenas dois dos muitos que poderia referir. Mas gostava mesmo que a maioria dos críticos de JHS olhasse para a sua memória consciente e me dissesse o que os motivou e cativou para a História. Tenho a certeza que a maior parte terá pontos de ligação com experiências semelhantes às minhas ou com leituras dos grandes livros da historiografia romântica - tão próximos afinal dos programas de JHS. A ficção é a melhor maneira de despertar interesse para a pesquisa da verdade. Mas os limitados que acham que a ficção é composta apenas de uma camada, que não há intenção, que não há emoção que não há o mistério que leva ao caminho para a Luz (não o estádio); esses serão sempre os falhados na sua capacidade de motivar e iluminar os outros.
Nada nesta vida é plano e uno. Nada na História é o que é. Estou a ler agora a única biografia de Tamerlão - se não sabem quem foi, investiguem - e a descobrir que anos de historiografia oficial chinesa e sobretudo soviética criaram uma parede de desinformação que ainda hoje leva os que procuram saber alguma verdade a lutar contra moinhos.
Já não me lembro quem disse que a História era escrita pelos vencedores. É uma verdade e nessa guerra JHS levou a melhor contra todos os outros. Se metade da "sua" História eram mentiras, lendas e factos por confirmar, não me interessa. Tenho a certeza de que quem seguiu os seus programas ainda hoje, ao viajar pelo nosso país pára nos monumentos e visita os museus locais para saber mais, conhecer lendas, e perceber o que realmente se passou. O resto são egos feridos.
p.s. E não me venham com a velha história do comentário cobarde pós 25 de Abril de que Camões era um trabalhador. Naquele tempo e para JHS que tinha sido Ministro do Estado Novo essa foi a estratégia de sobrevivência e provavelmente a maneira de ficar num país que amava e cuja História o inspirava. Cobardes somos nós que deixamos os nossos governantes espezinhar-nos e cortamos na casaca de quem acabou de morrer.
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