«Norwegian Wood» voltou hoje à recordação, vi o filme, sem surpresa pior do que o livro. Ainda assim a força daquela que tenho pessoalmente como a mais triste história de amor feliz não esmorece apesar de haver graves erros de continuidade e algumas mudanças de plano muito malfeitinhas.
Murakami acabou por não participar activamente no filme (esteve planeado que ele seria responsável pelo argumento) e creio que aí teve origem um problema grave: o filme procura criar uma carga simbólica pela sua montagem, pelo diálogo das cenas, dos espaços e da presença dos personagens nos determinados espaços. Com isso perdea linearidade da narrativa de Murakami. Alguns longos planos de belíssimas paisagens japonesas faz perder força o conflito dialogante dos espaços-mundos presente no livro.
Apesar de todos os actores estarem bem escolhidos, sobressai claramente a actriz que desempenha o papel de Midori...
Enfim e no meio de tudo isto. Se tiverem filme e livro à frente, leiam o livro.
Na altura em que li o livro apaixonei-me por ele. Era o mais normal dos Murakamis, o mais real mas também o mais absurdo na sua normalidade. Um livro sobre a nossa incapacidade de nos entregarmos totalmente ou sobre o risco da entrega total (nos dois extremos dos personagens envolvidos na história), mas também sobre aquele problema grave de precisamente serem os extremos que se atraem. E se essas questões são grandes enigmas para o se humano, imagine-se no Japão onde tudo é interiorizado e se vive com uma noção de culpa católica não muito bem assimilada (ou demasiado bem assimilada).
Ao mesmo tempo coloca-se a questão do nosso mundo e das suas fronteiras, daquilo em que o nosso mundo pode tocar, permutar ou mesmo conter o mundo dos outros.
Recomendei o livro a imensa gente e descobri, para meu espanto, que as mulheres geralmente não gostavam dele. Talvez seja um livro muito masculino na sua forma de pensar. Talvez o personagem principal na sua incompreensão (ou sobrecompreensão) irrite as leitoras. Não sei.
Resta-me portanto perguntar, ao jeito de certo personagem de Verne: «Quem jamais sondou as profundezas do abisbo?» respondendo: Murakami e eu..
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