O Diabo na Ulisseia em Setembro
Isaac Bashevis Singer viu o nascimento e crescimento do nazismo (que, aliás, foi essencialmente contemporâneo do seu), assustado pela sua proximidade e significado, emigrou em 1935 para os Estados Unidos trazendo na mala boa parte de um romance intitulado «Satã em Goray», escrito na sua língua natural, o iídiche.
Publicado originalmente por capítulos numa revista literária, este é um romance histórico passado numa pequena aldeia judaica geograficamente localizada na Polónia hodierna. Uma aldeia que apenas acabou de recuperar dos massacres perpetrados durante as invasões dos cossacos, que se apercebe da sua debilidade e da insegurança que a rodeia, da probabilidade da fome e da doença que o futuro poderá trazer. E é a essa aldeia que chega um dia o estranho Sabbadai Zevi que se apresenta como o novo Messias. Essachegada marca o momento em que, contra todos os apelos da razão, a comunidade acaba por se entregar nas mãos dessa fé cega.
Lê-se como romance histórico, como disse, mas é também, claramente, um romance-alegoria sobre a implantação do nazismo e um alerta muito sério para os nossos tempos de crise financeira e grave insegurança.
Andava há anos para publicar este romance mas só hoje o pude fazer pelo que estou bastante satisfeito. Preferia tê-lo feito a partir do iídiche mas não há tradutores em Portugal, ainda assim foi o próprio Singer que ou traduziu ou supervisionou as traduções das suas obras para inglês pelo que a traição será menor.
Satã em Goray, de Isaac Bashevis Singer (trad. de João Carlos Alvim)
Só com uma nota final, que os editores também têm de vender o seu peixe: Singer foi galardoado com o prémio Nobel de Literatura em 1978 e esta é a primeira vez que este seu romance vê a luz do dia em Portugal. Opinem.
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2 comentários:
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