A fracção do todo
0 comentários quinta-feira, 8 de setembro de 2011Foi um dos maiores sucessos editoriais de 2008. Tinha perto de 700 páginas e era uma obra de estreia de um autor australiano obviamente desconhecido. Tinha tudo para não ser um sucesso.
«Uma parte do todo» de Steve Toltz, foi publicado em cinco continentes com um reconhecimento universal da crítica. Foi finalista do Booker (de que consta ser a primeira obra de estreia de um autor não-britânico a alcançar tal posição) e do Guardian Firrst Fiction Award. Traduziu-se e traduz-se ainda em mais de 40 países apesar da dificuldade orçamental de lidar com uma tradução caríssima e o risco de se apostar numa obra de estreia cujo autor não garantiu ainda sequência.
Ainda assim a aposta foi unânime por parte dos melhores editores estrangeiros.
O que leverá a que isto assim seja, perguntam-me. A qualidade transversal da obra: um calhamaço que nunca se repete, nunca abranda o ritmo e tem personagens únicas em situações extravagantes do princípio ao final do livro.
A história de uma família de anti-heróis apostados declaradamente em defender a honra da herança australiana enquanto colónia para ladrões, assassinos, malfeitores, prostitutas e o que mais viesse. As sucessivas gerações desta família, cujas histórias e os tempos se cruzam, estão apostadas em ser as piores dos piores.
Assim, o livro brinca com conceitos como 'justiça', ou 'verdade', ou 'honestidade' e, claro, 'ficção' como poucos podem fazer; e fá-lo ao mesmo tempo que conta uma grande história, faz com que o leitor identifique o lado mais perverso da sua alma com a daqueles bons-maus ou maus-bons, e fá-los rir sem parar.
Talvez seja também um dos poucos triunfos modernos da aventura pincaresca mas é, acima de qualquer outra coisa, um livro que ninguém esquecerá. Uma história que atravessa veloz 700 páginas para, no final, deixar vontade de muito mais.
Em Outubro nas melhores livrarias.
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Vila-Matas sobre Henry Roth
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«Henry Roth nació en 1906 en una aldea de Galitzia (entonces perteneciente al imperio austrohúngaro) y murió en los Estados Unidos en 1995. Sus padres emigraron a América y pasó su infancia de niño judío en Nueva York, experiencia que relató en una espléndida novela, Llámala sueño, publicada a los veintiocho años.
La novela pasó desapercibida y Roth decidió dedicarse a otras cosas, trabajó en oficios tan dispares como ayudante de fontanero, enfermero de manicomio o criador de patos.
Treinta años después, Llámato) sueño se reeditó y, en pocas semanas, se convirtió en una pieza clásica de la literatura norteamericana. Roth se quedó pasmado, y su reacción ante el éxito consistió en tomar la decisión de publicar algún día algo más, siempre y cuando él sobrepasara de largo la edad de ochenta años. Superó de largo esa edad, y entonces, treinta años después del éxito de la reedición de Llámalo sueño, dio a la imprenta A merced de una corriente salvaje, que los editores, dada la imponente extensión de la novela, dividieron en cuatro entregas.
«He escrito mi novela -dijo al final de sus días- sólo para rescatar recuerdos raídos que brillaban suavemente en mi memoria.»
Se trata de una novela escrita «para hacer que sea más fácil morir» y donde se burla, de una forma genial, del reconocimiento artístico. Sus mejores páginas tal vez sean aquellas en las que nos cuenta sus experiencias en las afueras de la literatura -esas páginas ocupan prácticamente la novela entera, como es lógico-, todo esos años, casi ochenta, en los que no se sabe si escribió, pero en todo caso no publicó, todos esos años en los que se olvidó de los afluentes del río de la literatura y se dejó llevar por la corriente salvaje de la vida.»
Enrique Vila-Matas in Bartleby & Cia.
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O Diabo na Ulisseia em Setembro
2 comentários sexta-feira, 2 de setembro de 2011Isaac Bashevis Singer viu o nascimento e crescimento do nazismo (que, aliás, foi essencialmente contemporâneo do seu), assustado pela sua proximidade e significado, emigrou em 1935 para os Estados Unidos trazendo na mala boa parte de um romance intitulado «Satã em Goray», escrito na sua língua natural, o iídiche.
Publicado originalmente por capítulos numa revista literária, este é um romance histórico passado numa pequena aldeia judaica geograficamente localizada na Polónia hodierna. Uma aldeia que apenas acabou de recuperar dos massacres perpetrados durante as invasões dos cossacos, que se apercebe da sua debilidade e da insegurança que a rodeia, da probabilidade da fome e da doença que o futuro poderá trazer. E é a essa aldeia que chega um dia o estranho Sabbadai Zevi que se apresenta como o novo Messias. Essachegada marca o momento em que, contra todos os apelos da razão, a comunidade acaba por se entregar nas mãos dessa fé cega.
Lê-se como romance histórico, como disse, mas é também, claramente, um romance-alegoria sobre a implantação do nazismo e um alerta muito sério para os nossos tempos de crise financeira e grave insegurança.
Andava há anos para publicar este romance mas só hoje o pude fazer pelo que estou bastante satisfeito. Preferia tê-lo feito a partir do iídiche mas não há tradutores em Portugal, ainda assim foi o próprio Singer que ou traduziu ou supervisionou as traduções das suas obras para inglês pelo que a traição será menor.
Satã em Goray, de Isaac Bashevis Singer (trad. de João Carlos Alvim)
Só com uma nota final, que os editores também têm de vender o seu peixe: Singer foi galardoado com o prémio Nobel de Literatura em 1978 e esta é a primeira vez que este seu romance vê a luz do dia em Portugal. Opinem.
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Asimov em Setembro na Ulisseia (como nunca o viram)
0 comentáriosSe um grupo de cavalheiros se reunisse regularmente num clube nova iorquino para desvendar mistérios dos quais possuiam apenas uma notícia ou um relato (obviamente incompletos ou parciais), se durante os magníficos jantares servidos pelo extraordinário Henry se fossem tecendo as possibilidades de solucionar a intriga, isso seria
Os Crimes dos Viúvos Negros, de Isaac Asimov (trad. por Raquel Dutra Lopes)
Na época em que o policial negro americano a la Spillane era rei e senhor, Asimov, convidado pela Ellery Queen Mystery Magazine, escreveu uma série de contos de aparência clássica mas que, na realidade, para além da fachada de boas histórias policiais (que são) é, ainda assim, um conjunto de ensaios sobre lógica, mecanismos da ficção e a Verdade.
Este é um daqueles pequenos tesouros da literatura que me deu imenso prazer descobrir. Espero que também gostem.
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