O Público informa-me que morreu a Maria Lúcia Lepecki. Aqui está uma grande perda. Mais do que tudo o que dizem da Maria Lúcia, grande escritora e ensaísta, foi uma Grande Professora e sobretudo uma das últimas grandes comunicadoras da Universidade portuguesa.
Dentro do departamento de românicas e da FLUL era a única professora que parecia respirar fora daquele ambiente de intriguistas e de invejosos. Parecia ser a única pessoa a divisar que havia um mundo fora daquele e era isso mesmo que transmitia aos alunos. Que também fora do modelo de ensino ultrapassado em que o aluno não tinha espaço para dar as suas opiniões e apenas poderia limitar-se a citar e os autores autorizados pelo professor da maneira como este os citava, tudo podia ser feito de outra forma com a Maria Lúcia. Lembro-me, e ainda noutro dia falava disso, que apresentei um trabalho, uma leitura comparada da «Leviana» do António Ferro e de «O amor é fodido» do MEC.
Foi a Maria Lúcia quem me fez descobrir a grandeza do Camilo, quem não se atrevia a dizer bem do Saramago ou do Lobo Antunes, por aquilo que tinham de bom ou diferente.
Mas mais que tudo a Maria Lúcia ensinou quem a queria ouvir a viver plenamente. A acordar para a grandeza do mundo e pequenez da nossa mesquinhez lusa (e fê-lo sem criticar seja o que for).
Ela ensinava as pessoas a terem curiosidade e seguirem essa mesma curiosidade; ela mostrava o que era amar a literatura portuguesa como poucos portugueses conseguem.
A Maria Lúcia foi uma pessoa feliz - apenas sofria com o afastamento dos netos. Foi um grande Ser Humano. Em tudo o que lhe conheci, estava acima.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário