Confesso que é com algum prazer que escrevo sobre um livro. A verdade é que, apesar de me sentir, dia após dia, com menos probabilidades de voltar ao meio editorial em prazo próximo, ainda assim custa-me escrever sobre livros que leio e que um dia gostaria de editar.
Mas sobre este título posso falar. Descobri-o na 6ª na FNAC e não resisti. Quanto mais não fosse é a minha área de estudo de eleição. Tinha à minha frente as mais de 1000 páginas de «Vaarney, the vampyre» de James Malcolm Rymer. Uma monumental saga de mais de 200 capítulos e quase 1200 páginas de letra microscópica que foi publicado originalmente entre os anos de 1845 e 1847 numa série de "penny dreadfuls" - uma esécie de pequenos livrinhos de cordel, vendidos por apenas um penny e geralmente dedicados à "literatura de emoção". Mas este heróis arrasta consigo muito mais do que a presença numa das mais bem sucedidas séries do género. Rymer, ao criar o vampiro Sir Francis Varney, estabeleceu a maioria dos arquétipos que a literatura fantástica atribui, até hoje, à figura do vampiro. Foi esta série de folhetins, juntamente com o notável conto de John Polidori («The vampire») a maior inspiração de Bram Stoker para o seu Drácula.
Assim, para além de documento essencial para quem analisa a literatura fantástica, é também um exemplo essencial da forma como a literatura de divulgação massificada está na origem da literatura de "género" e como estes "filhos bastardos" do neo-gótico literário de Radcliffe, Walpole, Beckford e tantos outros, são bem mais importantes para o entendimento da literatura actual que muitos dos clássicos canonizados.
E, mesmo ignorando tudo isso, é um texto deliciosamente divertido no seu ritmo vertiginoso e inocência sanguinolenta.
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