Murakami e eu
0 comentários sábado, 5 de novembro de 2011Há uns anos atrás foi publicado o primeiro Murakami em Portugal pela Civilização. Algumas pessoas há que sabem do meu envolvimento nessa publicação. Tinha descoberto Murakami pouco tempo antes.
«Norwegian Wood» voltou hoje à recordação, vi o filme, sem surpresa pior do que o livro. Ainda assim a força daquela que tenho pessoalmente como a mais triste história de amor feliz não esmorece apesar de haver graves erros de continuidade e algumas mudanças de plano muito malfeitinhas.
Murakami acabou por não participar activamente no filme (esteve planeado que ele seria responsável pelo argumento) e creio que aí teve origem um problema grave: o filme procura criar uma carga simbólica pela sua montagem, pelo diálogo das cenas, dos espaços e da presença dos personagens nos determinados espaços. Com isso perdea linearidade da narrativa de Murakami. Alguns longos planos de belíssimas paisagens japonesas faz perder força o conflito dialogante dos espaços-mundos presente no livro.
Apesar de todos os actores estarem bem escolhidos, sobressai claramente a actriz que desempenha o papel de Midori...
Enfim e no meio de tudo isto. Se tiverem filme e livro à frente, leiam o livro.
Na altura em que li o livro apaixonei-me por ele. Era o mais normal dos Murakamis, o mais real mas também o mais absurdo na sua normalidade. Um livro sobre a nossa incapacidade de nos entregarmos totalmente ou sobre o risco da entrega total (nos dois extremos dos personagens envolvidos na história), mas também sobre aquele problema grave de precisamente serem os extremos que se atraem. E se essas questões são grandes enigmas para o se humano, imagine-se no Japão onde tudo é interiorizado e se vive com uma noção de culpa católica não muito bem assimilada (ou demasiado bem assimilada).
Ao mesmo tempo coloca-se a questão do nosso mundo e das suas fronteiras, daquilo em que o nosso mundo pode tocar, permutar ou mesmo conter o mundo dos outros.
Recomendei o livro a imensa gente e descobri, para meu espanto, que as mulheres geralmente não gostavam dele. Talvez seja um livro muito masculino na sua forma de pensar. Talvez o personagem principal na sua incompreensão (ou sobrecompreensão) irrite as leitoras. Não sei.
Sei apenas que compreendo este livro como ele me compreende. Que me deixa com aquela tristeza que se assemelha a um vazio enorme. Uma profundeza, um abismo.
Resta-me portanto perguntar, ao jeito de certo personagem de Verne: «Quem jamais sondou as profundezas do abisbo?» respondendo: Murakami e eu..
read more “Murakami e eu”
«Norwegian Wood» voltou hoje à recordação, vi o filme, sem surpresa pior do que o livro. Ainda assim a força daquela que tenho pessoalmente como a mais triste história de amor feliz não esmorece apesar de haver graves erros de continuidade e algumas mudanças de plano muito malfeitinhas.
Murakami acabou por não participar activamente no filme (esteve planeado que ele seria responsável pelo argumento) e creio que aí teve origem um problema grave: o filme procura criar uma carga simbólica pela sua montagem, pelo diálogo das cenas, dos espaços e da presença dos personagens nos determinados espaços. Com isso perdea linearidade da narrativa de Murakami. Alguns longos planos de belíssimas paisagens japonesas faz perder força o conflito dialogante dos espaços-mundos presente no livro.
Apesar de todos os actores estarem bem escolhidos, sobressai claramente a actriz que desempenha o papel de Midori...
Enfim e no meio de tudo isto. Se tiverem filme e livro à frente, leiam o livro.
Na altura em que li o livro apaixonei-me por ele. Era o mais normal dos Murakamis, o mais real mas também o mais absurdo na sua normalidade. Um livro sobre a nossa incapacidade de nos entregarmos totalmente ou sobre o risco da entrega total (nos dois extremos dos personagens envolvidos na história), mas também sobre aquele problema grave de precisamente serem os extremos que se atraem. E se essas questões são grandes enigmas para o se humano, imagine-se no Japão onde tudo é interiorizado e se vive com uma noção de culpa católica não muito bem assimilada (ou demasiado bem assimilada).
Ao mesmo tempo coloca-se a questão do nosso mundo e das suas fronteiras, daquilo em que o nosso mundo pode tocar, permutar ou mesmo conter o mundo dos outros.
Recomendei o livro a imensa gente e descobri, para meu espanto, que as mulheres geralmente não gostavam dele. Talvez seja um livro muito masculino na sua forma de pensar. Talvez o personagem principal na sua incompreensão (ou sobrecompreensão) irrite as leitoras. Não sei.
Resta-me portanto perguntar, ao jeito de certo personagem de Verne: «Quem jamais sondou as profundezas do abisbo?» respondendo: Murakami e eu..
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