Palhaçadas

Acima de tudo porquê palhaço? Não é intenção dele fazer-nos rir (infelizmente). Ele está a ser sério mas tem efeitos cómicos. Uma pessoa culta como o MST deveria empregar termos mais precisos. Dizer que temos um Presidente ridículo é o termo mais correcto - até etimologicamente - "aquele que provoca o riso" mas que não o faz intencionalmente. Risível também serviria.

A outra grande questão é a do respeito pela posição. Quando há uns anos se debatia a questão do aborto eu tive de votar contra apesar de estar de acordo com a legalização. Aquilo que me fez tomar essa decisão é o conhecimento da falta de valores morais da nossa sociedade. Fiquei dividido entre a possibilidade de fazer um aborto - que me parecia correcta - e o facto de saber que esta possibilidade iria ser usada como meio anticoncepcional por uma sociedade inculta e desprovida de ética e moral. Como considero que a ética e a moral (não religiosa) são o cimento da sociedade, votei contra. Da mesma forma agora acho que o respeito - mesmo por quem não se dá a ele - é um valor essencial. Se abrimos precedentes para poder insultar seja quem for (apesar de "palhaço" mal entrar na minha lista de insultos leves), essa é a mensagem que transmitimos a uma sociedade que já não respeita nada. E o meu problema não está, obviamente, com a maior parte das pessoas que discutem a correcção do insulto, que se insurgem contra a sua utilização ou que a aprovam, está com os outros que tudo bebem sem degustar.

Por último, sim é verdade que Aníbal Cavaco Silva, a pessoa, tem revelado uma inépcia total no desempenho da presidência. Algumas frases e posições ditas e assumidas fazem-me recordar uma fase da vida do dr. Mário Soares há uns anos quando foi convidado pela SIC para apresentar uma série de grandes entrevistas com personalidades internacionais que marcaram o século XX (creio que Kissinger e outros), programas esses que acabaram cancelados ao fim de poucas emissões devido à alguma confusão que a idade trouxe ao dr. Mário Soares. Felizmente passado algum tempo (e certamente com mudança de medicação) a coisa passou. É verdade clara que Cavaco Silva não tem sido (na minha opinião nunca seria) o Presidente de que o país necessita nestes tempos de crise mas foi eleito democraticamente e desrespeitá-lo é desrespeitar a democracia. O que de todo nunca deverá impedir que nós, que temos consciência da inadequação, nos questionemos sobre o país e os nossos concidadãos e que percebamos, de uma vez por todas, que só uma revolução no sistema de educação e uma população culta pode tomar decisões mais conscientes e informadas. Que uma tal sociedade, acima de tudo, tem poder de análise para não insistir no erro.

Nota de rodapé:
Deve questionar-se a democracia, como se deve questionar o governo, um partido, um sistema, um presidente, quando se está pronto a apresentar uma alternativa. Confesso-me particularmente irritado com este nosso feitiozinho comodista latino de berrar do sofá insultos ao vento. Este país vive numa democracia (imperfeita dirão alguns com razão ou razões), assumamos isso e deixemos de ser uma população monárquica. Se estamos contra assumamos um papel activo politicamente. E sobretudo não sejamos apenas contra. Que a oposição seja alternativa, acima de tudo, que apresente soluções. Não podemos ser todos democraticamente críticos para a destruição e nunca apresentarmos a alternativa construtiva.

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