Mais uma razão para a crise

0 comentários segunda-feira, 15 de abril de 2013
Tem sido ignorada como razão para a crise mas é uma realidade presente e confrangedora. Já todos nos cruzamos com ela nas empresas em que trabalhamos, nas instituições às quais recorremos, nos discursos e obra dos políticos.

Da mesma forma como há uma monumental ignorância da História e portanto cometer os mesmos erros não parece chocar ninguém, da mesma forma, dizia, há uma total ausência de planificação estratégica a médio ou longo prazo.

Uma empresa criada agora projecta-se no futuro pensando na sua estratégia e opções a 2 anos no máximo. Falando com algum gestor e perguntando-lhe "e como vai ser dentro de 10 anos?" a resposta não deverá fugir aos lugares comuns de sempre: "quando lá chegarmos veremos" ou "hoje em dia não é possível pensar a essa distância".

Da mesma forma as empresas e os governos, os líderes das instituições pensam as suas políticas contratuais em termos de meses ou poucos anos no máximo.

E o problema de tudo isto é não se ter ainda chegado a uma decisão: queremos empresas, instituições e políticas descartáveis? Empresas, instituições e políticas com prazo de validade cujo fim é marcado pelo recomeço ou pelo simples abandono.

No entender dos novos modelos de gestão dá muito trabalho readaptar um modelo de negócio, actualizá-lo, da mesma forma uma política. Assim é mais fácil, prático e económico fechar, terminar, concluir, quando for necessário repensar, refundar, adaptar.

E no entanto, o paradoxo é que as empresas, instituições e políticas têm como aparente objectivo "manterem-se cá" por bastante tempo.

O que acontece é simples: se um modelo se esgota, faz-se uma renovação total. E como não há memória histórica e porque toda a experiência ganha anteriormente é considerada não-válida, repetem-se erros e multiplicam-se custos. E como quem foi contratado está - e sabe-o - a prazo - planifica a coisa tendo por objectivo resultados rápidos sem se preocupar com a próxima mutação.

Claro que esta forma de funcionamento traz alguns problemas centrais: impossibilidade de fidelização de públicos, quase total impossibilidade de inovação estruturada ou políticas de crescimento continuado.

As evoluções no mundo digital têm vindo a ofuscar um pouco a nossa mundivisão. Olhando bem à nossa volta verificamos que fazem falta as grandes inovações que arrancam a humanidade dos seus momentos de crise. As inovações que realmente mudam os paradigmas e o mundo em que vivemos, aquelas que afectam de forma radical a nossa forma de vida.

Esta falta de projecção para o futuro, de inexistência da inovação dentro dos paradigmas actuais, faz-nos correr o risco sério de uma estagnação de modelos, e a economia percebe isso antes das pessoas porque vem da forma como o mundo inconscientemente pressente o futuro. 

Tive recentemente oportunidade de falar com alguns gestores que diziam ter traçado estratégias de crescimento a médio e longo prazo para as suas empresas e deparei-me com estratégias do tipo que pode ser generalizado da seguinte maneira:

"Criamos este modelo de negócio com objectivos a 2 anos. Se os objectivos forem cumpridos mantemo-nos nessa linha. caso não sejam cumpridos montaremos outro modelo [não identificado ou definido] com objectivos a 2 ou 3 anos..." E por aí adiante.
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